Por Celso Lungaretti
Em Helena de Tróia (d.
John Kent Harrison, 2003), um interessante telefilme inspirado na saga
de Homero, foi muito bem bolado o diálogo que o cornudo Menelau e o
astucioso Ulisses travam com o digno rei Priamo, tentando convencê-lo a
entregar Helena para evitar a guerra iminente.
Priamo só faz uma pergunta a Menelau: "Mas, para que você quer Helena?".
Este não consegue responder de forma positiva, diz apenas que ela lhe pertence, é dele por direito e, se não for devolvida, não sobrará pedra sobre pedra em Troia.
Ulisses ainda tenta consertar, dizendo que o único e verdadeiro motivo é o amor, mas o estrago já está feito. A resposta irada do marido traído, mais o fato de que este no passado a obrigara a exibir sua nudez a vários outros soberanos numa festa, convencem Priamo de que Menelau encara Helena como um objeto e não a merece.
Esta lembrança me ocorreu ao ler a propaganda contra o impeachment presidencial nos portais, sites e blogues petistas. Pois, o enfoque é o mesmíssimo que um jornal do Corinthians daria a um lance polêmico do clássico contra o Palmeiras: parcialidade extremada, tendenciosidade gritante, fanatismo à flor da pele.
Na enxurrada de textos de torcedores organizados contra o impeachment, falta sempre esclarecerem: "Mas, para que, afinal, Dilma quer continuar presidenta?".
Pois ela se elegeu praticamente sem programa de governo, apenas
satanizando os adversários e difundindo falácias sobre eles, chegando ao
cúmulo de atribuir-lhes intenções que, verdadeiramente, eram idênticas
às suas. E, agora, é incapaz de apresentar um único motivo positivo que justificasse sua permanência no poder.
O mandato lhe pertence, é dela por direito (apesar do estelionato eleitoral) e, se o tentarem tirar, não sobrará pedra sobre pedra. Eis o que ela nos atira na cara, como uma criança que quer porque quer, e não como uma adulta apresentando argumentos capazes de nos convencer.
Tal desempenho até agora fez sua popularidade despencar para incríveis 69% de ruim/péssimo contra 10% de bom/ótimo e não há prenúncio nenhum de mudança de prioridades e métodos, nem sequer do neoliberalismo ela abre mão!!!
E os brasileiros que nos conformemos com a recessão a que seus rompantes de gerentona
nos conduziram, com as decisões erradas que ela continua tomando e
acabarão por gerar uma terrível depressão, com a degradação extrema da
democracia como consequência de sua batalha inglória para, recorrendo às
práticas mais imundas da política convencional, salvar no Legislativo e
no Judiciário um mandato que já não tem o respaldo das ruas.
Até quando e quanto ainda o povo terá de sofrer porque os podres poderes não
o expressam, sendo incapazes, por amarras burocráticas ou por
patifarias de bastidores, de encontrar uma saída plausível para uma
situação insustentável?!
Pelos mesmíssimos motivos que Collor caiu, Dilma tem de sair.
O principal deles: porque não há possibilidade nenhuma de melhora enquanto ela estiver lá.
O povo brasileiro já sofreu demais, não por algo que valha a pena sofrer
(a conquista da igualdade social, p. ex.), mas apenas para dispor de
uma democracia burguesa que é muito mais burguesa do que democracia e um
capitalismo que mantém todas as mazelas da exploração do homem pelo
homem e consegue ser pior ainda do que o habitual por causa da gestão
incompetente e da corrupção desenfreada.
Aqui você pode ver o filme. E aqui, saber mais sobre ele.