Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Dilma ainda não caiu, mas seu "Governo" já acabou

Quinta, 10 de dezembro de 2015
Da Tribuna da Imprensa
Igor Mendes
Se pela via do impeachment, se por meio de renúncia, a queda de Dilma parece inevitável. E isso ocorrerá não porque tenha tomado qualquer medida que contrarie os interesses da grande burguesia e do latifúndio, classes dominantes internas, aliadas ao imperialismo, ao contrário, mostrou-se sempre sua fiel escudeira. Tanto que o establishment, com direito a editorial do “O Globo” e tudo, posicionou-se há poucos meses pela sua continuidade. Entretanto, uma vez que sua permanência impede o próprio funcionamento “normal” das instituições –o Congresso não vota o sangrento “ajuste” contra os trabalhadores –e arrisca a “estabilidade” dos investimentos, tornou-se mais caro mantê-la que descarta-la. Sua hora soou.
As centrais sindicais governistas e a intelectualidade amestrada defendem o governo, “seu” governo, de fato, não dos trabalhadores. “Seu” governo significam as verbas de publicidade para os “amigos”, acesso a editais e cargos comissionados, as benesses que levaram à cadeia os Dirceu e os Delcídio, abandonados à própria sorte por um Lula preocupado antes e acima de tudo consigo mesmo, como sempre. Bradam o fantasma da “direita”, que não assusta mais ninguém, pois eles mesmos sempre governaram com a turma do Sarney, Barbalho, Kátia Abreu, Maluf, e vejam só!, têm na quadrilha Picciani-Pezão-Cabral-Paes, que nós aqui no Rio conhecemos bem, seus mais fiéis defensores... Alguém consegue imaginar a campanha “Pezão vá pra Cuba”?!
Por isso mesmo, as “manifestações” governistas não passam de teatrinho montado para fingir alguma mobilização, quando realmente o atual governo é dos mais impopulares, quiçá o mais impopular, de nossa história recente. Pagam, e caro, para levar algumas centenas de pessoas às ruas, colhendo fiasco toda vez.
De outro lado, as convocações para passeatas pró-impeachment não ampliam para além da classe média (a verdadeira, não aquela inventada pelas estatísticas oficiais, que derreteu em alguns meses de crise) porque os trabalhadores, as massas mais profundas de nosso povo, veem e sentem que a oposição oficial não está nem aí para os seus interesses. Entretanto, nos níveis de inflação e desemprego projetados para o próximo ano, quando o grosso dos efeitos do “ajuste” surtirão, é possível e até provável que essa tremenda força hoje subterrânea levante-se, não para defender gregos ou troianos, mas sim seu emprego, seu pão e seu pedaço de terra.
Esse é o nosso lado, esses são os interesses que à autêntica esquerda cabe defender, radicalmente.
Estando ainda no governo ou na “oposição”, o PT e seus satélites estão já completamente desmoralizados para buscar dirigir, e conter, esse movimento de massas que se gesta, que teve nas jornadas de junho o seu ensaio geral. Isso não é pouco: pela primeira vez em trinta anos, o petismo, essa força anticomunista e antirrevolucionária por excelência, alheia a qualquer princípio que não seja aquele de preservar-se e preservar a velha ordem, perdeu sua hegemonia política, amplamente desastrosa para os operários, os camponeses, as mulheres trabalhadoras, os estudantes, etc. Como em toda América Latina, a belle époque dos partidos reformistas chega ao fim por aqui, abrindo caminho para novas forças classistas e combativas que já se forjam nas manifestações de rua e greves que pipocam País afora, assim como na secular luta pela terra dos camponeses e povos indígenas, que nunca deixou de ser implacavelmente reprimida por esse governo do “agronegócio”.
Dilma ainda não caiu, mas a época de ouro dessa falsa esquerda já ficou para trás. Que chorem as suas viúvas.