Da Tribuna da Imprensa
Igor Mendes
Se
pela via do impeachment, se por meio de renúncia, a queda de Dilma parece
inevitável. E isso ocorrerá não porque tenha tomado qualquer medida que
contrarie os interesses da grande burguesia e do latifúndio, classes dominantes
internas, aliadas ao imperialismo, ao contrário, mostrou-se sempre sua fiel
escudeira. Tanto que o establishment, com direito a editorial do “O Globo” e
tudo, posicionou-se há poucos meses pela sua continuidade. Entretanto, uma vez
que sua permanência impede o próprio funcionamento “normal” das instituições –o
Congresso não vota o sangrento “ajuste” contra os trabalhadores –e arrisca a
“estabilidade” dos investimentos, tornou-se mais caro mantê-la que descarta-la.
Sua hora soou.
As
centrais sindicais governistas e a intelectualidade amestrada defendem o
governo, “seu” governo, de fato, não dos trabalhadores. “Seu” governo
significam as verbas de publicidade para os “amigos”, acesso a editais e cargos
comissionados, as benesses que levaram à cadeia os Dirceu e os Delcídio,
abandonados à própria sorte por um Lula preocupado antes e acima de tudo
consigo mesmo, como sempre. Bradam o fantasma da “direita”, que não assusta
mais ninguém, pois eles mesmos sempre governaram com a turma do Sarney, Barbalho,
Kátia Abreu, Maluf, e vejam só!, têm na quadrilha Picciani-Pezão-Cabral-Paes,
que nós aqui no Rio conhecemos bem, seus mais fiéis defensores... Alguém
consegue imaginar a campanha “Pezão vá pra Cuba”?!
Por
isso mesmo, as “manifestações” governistas não passam de teatrinho montado para
fingir alguma mobilização, quando realmente o atual governo é dos mais
impopulares, quiçá o mais impopular, de nossa história recente. Pagam, e caro,
para levar algumas centenas de pessoas às ruas, colhendo fiasco toda vez.
De
outro lado, as convocações para passeatas pró-impeachment não ampliam para além
da classe média (a verdadeira, não aquela inventada pelas estatísticas
oficiais, que derreteu em alguns meses de crise) porque os trabalhadores, as
massas mais profundas de nosso povo, veem e sentem que a oposição oficial não
está nem aí para os seus interesses. Entretanto, nos níveis de inflação e
desemprego projetados para o próximo ano, quando o grosso dos efeitos do
“ajuste” surtirão, é possível e até provável que essa tremenda força hoje
subterrânea levante-se, não para defender gregos ou troianos, mas sim seu
emprego, seu pão e seu pedaço de terra.
Esse
é o nosso lado, esses são os interesses que à autêntica esquerda cabe defender,
radicalmente.
Estando
ainda no governo ou na “oposição”, o PT e seus satélites estão já completamente
desmoralizados para buscar dirigir, e conter, esse movimento de massas que se
gesta, que teve nas jornadas de junho o seu ensaio geral. Isso não é pouco:
pela primeira vez em trinta anos, o petismo, essa força anticomunista e
antirrevolucionária por excelência, alheia a qualquer princípio que não seja
aquele de preservar-se e preservar a velha ordem, perdeu sua hegemonia
política, amplamente desastrosa para os operários, os camponeses, as mulheres
trabalhadoras, os estudantes, etc. Como em toda América Latina, a belle époque
dos partidos reformistas chega ao fim por aqui, abrindo caminho para novas
forças classistas e combativas que já se forjam nas manifestações de rua e
greves que pipocam País afora, assim como na secular luta pela terra dos
camponeses e povos indígenas, que nunca deixou de ser implacavelmente reprimida
por esse governo do “agronegócio”.
Dilma
ainda não caiu, mas a época de ouro dessa falsa esquerda já ficou para trás. Que
chorem as suas viúvas.