Domingo, 13 de dezembro de 2015
Do Blogue Náufrago da Utopia
DESINTEGRAÇÃO

Por Vinícius Torres Freire
Michel Temer despacha todos os dias no escritório do impeachment.
No momento, a prioridade é ter maioria no PMDB, uns dois terços, por aí,
equivalente à quantidade de votos bastante para abrir o processo de deposição
de Dilma Rousseff na Câmara. Dado o exemplo dentro de casa, fica mais fácil
conquistar partidos amigos da onça do governo, essa coisa que Brasília chama
pelo nome cafona de base aliada (coalizão).
Esse é o plano lento, gradual e seguro do
fechamento do cerco à presidente, dizem um peemedebista graduado e dois líderes
parlamentares da oposição que conversam com Temer, um diálogo agora
sistemático. O fato de o governo tentar comprar peemedebistas irrita ainda mais
um PMDB cada vez mais na oposição aberta.
No PT, pelo menos nos comandos paulistas, do
Instituto Lula à direção, o desânimo cresce. Alguns petistas dizem não entender
tamanha desmobilização, pois o país ainda está dividido -há pelo que combater
ainda. No entanto, Lula está quase quieto. Nem o PT paulista nem a direção
nacional organizaram um plano de defesa de Dilma Rousseff.
A
desintegração não para por aí.
Parece agora um tanto disparatado tratar de
política econômica, até porque propriamente não existe mais tal coisa no
governo de Dilma. Mesmo assim, a presidente, mais que de costume tardia e
alienada da realidade, resolve dizer que ainda está indecisa a respeito de seu
plano de fantasia para o ano que vem.
Trata-se de definir qual seria a meta de
poupança do governo federal para 2016, o superavit primário. Se por mais não
fosse, tal indefinição deve levar a uma degradação do crédito do governo logo
no início do ano, mais fogo no caldeirão das bruxas em que Dilma Rousseff e o
país se dissolvem.
No ambiente de hoje, é algo assim como se o
rei estivesse a decidir se pinta o castelo de roxinho caixão ou fúcsia psicodélico.
Os ministros da economia ainda disputam a decisão, se superavit quase zero ou
de 0,7% do PIB. No que resta de material nesse debate, os ministros
digladiam-se mais pelo sinal que seria dado ao mercado do
que pelo realismo da meta, na qual ninguém acredita desde já (as previsões são
de rombo feio em 2016).
Ainda assim, nessa luta restante, o ministro
da Fazenda espalha recados de que dá o fora se for voto vencido. Se valer
apenas a contagem de votos, Joaquim Levy já está vencido. Há no governo desde
gente que defende uma virada responsável à esquerda até
aqueles para quem Levy é agora apenas irrealista. É mais desgoverno,
desorientação.
Sabe-se muito pouco do que vai ser de PIB e
impostos em 2016, verdade. O que interessa aqui é a firme impressão, digamos,
de que não dá para confiar nas promessas ou no discernimento da presidente e de
que o governo se desintegra.