Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O mal de Alckmin

Quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
APOLLO NATALI: "O MAL DE ALCKMIN"
Cena 1 (Paris): policiais vestidos com  atemorizantes fardamentos e munidos de armas de guerra com a missão de desentocar e prender terroristas internacionais. Entende-se.
 
Cena 2 (São Paulo): figuras atemorizantes de policiais militares em São Paulo desentocando crianças de prédios de escolas fundamentais e reprimindo-as nas ruas,  a elas e aos seus pais. Crianças, não terroristas.  Uma delas foi vista na televisão sendo levada para a viatura policial, presa. Crianças! Entende-se?
 
As crianças-estudantes e seus pais não aceitam a abrupta, policialesca e nada democrática postura do governo –sem consultar os interesses da população– de dividir escolas por séries e separar os alunos por ciclos, acarretando fechamento de mais de uma centena de estabelecimentos de ensino, e espalhando, sim, contratempos insuperáveis para milhares de estudantes e suas famílias.
 
Nestes tempos tumultuados em que estadistas do mundo inteiro reconhecem que mais vale cuidar do professor do que revirar e encolher o já defeituoso complexo escolar, o governador de São Paulo, cuja profissão de fé é ignorar a voz das ruas, introduz goela abaixo dos paulistanos, à maneira dos tiranos, sua mexida na contabilidade para reduzir gastos com a Educação.
 
Ora, com sua política retrógrada de fechar escolas, Alckmin não se credencia como nenhum benemérito precursor dos grandes avanços na Educação que começaram com o fim da escravidão e dos impérios absolutistas no país.
 
Entende-se? Sim. Para se desvendar a senha que habita o software absolutista de Alckmin –reprima-se!!!–  basta uma simples lembrança do espírito de tirania já demonstrado pelo governador em episódios marcantes da vida dos cidadãos paulistas.
 
No momento, o governador do PSDB, partido que em duas décadas no poder não fêz prosperar nada no Estado mais promissor e rico do país, proclama que são políticos os movimentos contra a sua malfadada reestruturação escolar. Ora, governador, cada suspiro de um ser humano neste planeta azul é um ato político, tenha cada ser se cadastrado ou não a um partido político. Não sabia?
Alckmin interpretou como coisa de baderneiros as manifestações de ruas de 2012, em que o povo exigia saneamento político no país, face à suspeição de roubalheiras e desgoverno em cada escaninho da Pátria injuriada de educadora. Geraldo Alckmin, então, ao modo de chavistas e maduros, e de qualquer carente de democracia por aí, abriu sua pétrea senha: reprima-se!!!.
 
Quantos movimentos de professores por melhores salários foram reprimidos com violência por Alckmin, em seus três governos autoritários? Grandes pensadores estão roucos de proclamar que viveremos melhor pagando mais aos professores do que aos políticos. Entre parêntesis: que governador paulista, em algum tempo, deixou de pisotear com cavalos os professores, em suas manifestações?
 
O secretário da Educação, Herman Voorwal, se diz envergonhado com a má qualidade de ensino no estado de São Paulo. Sempre uma culpa embutida nos professores. Então ele que vá promover qualidade de ensino a um menino, por exemplo, que viu sua mãe se suicidar na sua presença. Ou então para a menininha estuprada seguidamente, durante longo tempo, por parentes. Ou para alunos, grande número deles, sem recursos materiais para sobreviver, desnutridos, ou aqueles de pais alcoólatras ou coisa pior.
 
Qualquer passo que se dê visando uma reforma para valer na educação deve considerar a condição material e mental do total corpo discente do horizonte do ensino público. E não se ter o professor como inimigo público nº 1 do ensino. Os tiranos não sabem que um bom diálogo é como se estar num belo jardim. Em vez disso, acionam a senha: reprima-se!!!.
 
Que não prevaleça –contra crianças– a senha autoritária de Alckmin –reprima-se!!!–nos próximos dias, no fechamento de 93 unidades escolares em todo Estado, sendo 24 na capital. Passou a hora de o povo brasileiro  ser pisoteado pela bota de ferro da repressão. No caso da reestruturação escolar, Alckmin  acredita que, com a polícia e soldados truculentando crianças e adolescentes, está combatendo crimes! Que grande horror!
 
Desanimados jornalistas que não entendem porque seus escritos não provocam mudanças, não entendem também porque Alckmin perdeu em apenas uma cidade paulista nas últimas eleições. Eu entendo: o povo não tinha nada menos pior à disposição para votar..
E então, o que é o mal de Alckmin?
 
É o atual governador ter tido má qualidade de ensino nos seus estudos sobre democracia. Conjugado com o fato de ele ter sido aluno desinteressado no tema.
 
Há duas vagas na Faculdade de Democracia à disposição do secretário estadual de Educação de São Paulo, Herman Vorwald, e do governador Geraldo Alckmin. (por Apollo Natali)