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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Empresas são investigadas por desovar corpos achados perto de antigo Doi-Codi

Sexta, 13 de dezembro de 2019
Da

12/12/19 por Arthur Stabile

Construtora Uniq e incorporadora Urbic teriam ocultado de autoridades a descoberta de seis ossadas em obra em SP

Obra em que funcionários encontraram ao menos seis ossadas humanas | Foto: Reprodução

Ao menos seis ossadas humanas foram encontradas em uma construção na Rua Abílio Soares, número 1.149, na Vila Mariana, zona sul da cidade de São Paulo. O local fica a 150 metros da sede do antigo Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), local em que integrantes da ditadura militar torturaram presos políticos. Hoje o 36º DP (Paraíso) funciona neste prédio.
A Polícia Civil de São Paulo recebeu uma denúncia anônima de que funcionários de uma obra de prédios residenciais, feita pela construtora Uniq e pela incorporadora Urbic, escavavam o local quando encontraram pelo menos seis ossadas humanas.

O relato é de que os corpos estavam cobertos por um pó branco que seria similar à cal, usado para amenizar o cheiro, e apresentavam “orifícios provocados por disparos de arma de fogo”. As pessoas tiraram fotos para registrar o ocorrido. A apuração da denúncia anônima foi feita pela Delegacia Seccional de Diadema em 30 de outubro deste ano.

Ao comunicar o fato a seus superiores, a ordem foi a de omitir a informação e desovar os ossos em uma área em Carapicuíba (Grande SP), segundo relatório de inquérito da Polícia Civil. O documento afirma que um funcionário confirmou a ordem de juntar as partes humanas a terra e entulho da obra e descartá-los na Lagoa de Carapicuíba, na Avenida Consolação, 505, do município.

“Fato este que causou estranheza aos funcionários, pelo fato de terem ciência de que trata-se de crime e acreditarem trabalhar em uma empresa idônea”, detalha o documento. A delegacia abriu inquérito para investigar o caso em 7 de novembro.

A investigação apura se o local era um cemitério clandestino usado para desova de corpos ou um cemitério antigo, “datado do tempo da escravidão, onde pobres, escravos e negros forros eram sepultados”, segundo o relatório da polícia.

O Doi-Codi era usado pela ditadura militar para prender e torturar pessoas opositoras ao regime ditatorial instalado no Brasil entre 1964 e 1985. Ao menos dois jornalistas foram mortos no Doi-Codi: Vladimir Herzog e Luiz Eduardo Merlino. Ambos foram torturados e morreram, enquanto a ditadura alegou que um se enforcou e o outro teria sido atropelado.

A Ponte solicitou um posicionamento oficial às empresas Uniq e Urbic por e-mails às 22h40 desta quinta-feira (12/12) e aguarda uma resposta. A reportagem também questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB) sobre a investigação e espera um posicionamento.