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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Castilhos, Vargas, Brizola, Jango, Geisel

Sexta, 13 de dezembro de 2019
...quem mais assalta o Estado senão os que controlam o câmbio e a moeda? E quem são estes senão os sócios dos ruralistas, também seus aproveitadores, bancos e financeiras?  O sistema financeiro, hoje internacionalizado, sempre foi o mestre da corrupção, combatido até na Bíblia cristã.
Por
Pedro Augusto Pinho*

Em 14 de julho de 1891, foi promulgada a Constituição do Estado do Estado do Rio Grande do Sul. Foi a Constituição de Júlio de Castilhos, promulgada em nome da pátria e da humanidade, estabelecendo normas de defesa do proletariado, como aposentadoria aos trabalhadores a serviço do Estado.

Há na História do Brasil um fenômeno curioso. Podemos distinguir apenas dois instantes em que os principais políticos nacionais foram efetivamente nacionalistas.

O primeiro, no alvorecer da independência, com a personalidade política, intelectual e científica de José Bonifácio de Andrada e Silva. Emblemático Patriarca da Independência.

O segundo, curiosamente, reuniu um grupo de gaúchos com tendência ou formação positivista. São os que enumeramos no título do artigo. Três galgaram a Presidência do País, mas todos marcaram nossa História.

Como já escreveu, em excelentes ensaios, o cientista político Felipe Quintas, o positivismo, no Brasil, assumiu, no Rio Grande do Sul, uma coloração nacional-trabalhista.

Mas todos estes brasileiros foram combatidos, sem exceção, pelas forças colonizadoras, pelas elites exportadoras de produtos primários, estreitamente vinculadas aos capitais estrangeiros, quer pela força ou pela corrupção, quer pela astúcia com que sempre submeteram os brasileiros à pedagogia colonial e à escravidão.

Como verdadeiros puxa-sacos, esta “aristocracia” está sempre agarrada ao dominador, trocando este, mudam as mãos de lugar. Até a vinda da família real portuguesa para o Brasil, o saco eram os aristocratas lusitanos. Com a ascensão do financismo inglês, as mãos trocaram de lugar, o fazendo novamente quando os Estados Unidos da América (EUA) assumiu a liderança capitalista no século XX.

E, quando o governo brasileiro fica em mãos nacionalistas, como nas presidências de Vargas, Jango e Geisel, armam-se golpes para derrubá-los ou evitar que escolham sucessores.

O que é mais ridículo, trágico e cômico, é que as acusações são sempre as mesmas: corrupção e comunismo. Delas escapou somente Geisel, que foi rotulado de torturador, ditador assassino, mas ....... estatizante, seu crime.

Ora caros leitores; quem mais assalta o Estado senão os que controlam o câmbio e a moeda? E quem são estes senão os sócios dos ruralistas, também seus aproveitadores, bancos e financeiras? O sistema financeiro, hoje internacionalizado, sempre foi o mestre da corrupção, combatido até na Bíblia cristã.

Foi o sistema financeiro que aplicou o golpe da sucessão do Presidente Geisel. Foi também a pressa na apropriação do petróleo do pré-sal e a voracidade própria do capital financeiro que deu o golpe colocando seus marionetes na presidência do Brasil em 2016 e 2019.

Como todas pessoas informadas sabem, o capital financeiro é estéril. Ele se alimenta das especulações e dos assaltos às economias privadas e públicas. Sua arma, antes que os capitais ilícitos tivessem forte presença na sua formação, era a dívida. Pela dívida as finanças enriqueciam e escravizavam.

A situação atual está dúbia. Quem comanda as finanças internacionais?

Até o início do século XXI não teríamos dificuldade em responder. A velha aristocracia europeia com os novos ricos estadunidenses e pequena parcela nipônica: a conhecida trilateral, dominava o mundo não socialista.

Vamos aprofundar um pouco mais esta “velha aristocracia europeia”. Ninguém há de imaginar que, subitamente, como a descida do Espírito Santo fecundou Maria, uma arca de ouro foi depositada aos pés de conquistadores europeus. Antes da formação dos Estados Modernos, houve, de um lado, a constituição de casas de câmbio nas cidades estados da Itália (Veneza, Gênova) e nos Países Baixos, sob a condução de judeus, para dar condição ao comércio com o oriente. Isto ocorre pelo século XIII.

Mas, do lado da ocupação territorial europeia, casa de Wettin, da Saxônia, iniciava pelo ano 1000, um domínio que chega ao século XXI, com sua descendência espalhada por, praticamente, toda Europa Ocidental, continental e insular. Os nomes Meissen, Saxe-Goburgo, Windsor, Casteldosh, nossos conhecidos Braganças, as casas reais da Bélgica e da Bulgária estão entre estes formadores seculares de capital fundiário e financeiro. A este conjunto denominamos capital tradicional para distingui-lo do que foi formado com a expansão colonial inglesa e estadunidense, pela Ásia e pela América Latina, o capital do narcotráfico, e por capitais israelenses, ingleses, franceses e estadunidenses, capital do contrabando de armas. Estes dois últimos denominamos conjuntamente capital ilícito ou marginal.

O capital tradicional obteve as desregulações, comandadas pelas políticas britânicas e estadunidenses, na década de 1980. Não posso imaginar que o fizeram para beneficiar o capital marginal, mas para que seu próprio assumisse o controle da economia mundial. As nove crises de 1987 a 2001, varrendo as Américas, Europa e Ásia, demonstram unicamente a presença do capital tradicional. Se o marginal delas participou foi parcial e anonimamente.

Mas o capital marginal tinha uma vantagem formidável: é cash. Não depende da dívida, até mesmo porque ninguém financia a compra de cocaína ou de armas. Como e de quem cobrar?

Deste modo, com a criatividade de traficantes e contrabandistas, o capital ilícito constitui as empresas “gestoras de ativos”. E provavelmente nomeou seus Presidentes ou Chief Executive Officer (CEO) ou seus conselhos de administração.

São estas empresas, que citamos as maiores, com trilhões de dólares estadunidenses em seus ativos: BlackRock, Vanguard, State Street, Welligton, JP Morgan, Fidelity e europeias como Allianz e Amundi.

Transcrevemos da propaganda institucional da megaempresa BlackRock, dona de cerca de US$ 7 trilhões, quase quatro Produtos Interno Brutos brasileiros.

“A BlackRock está presente através dos seus escritórios em mais de 30 países espalhados pelo globo.

A carteira de ativos dessa empresa está dividida da seguinte maneira por continentes: Americas: 63% dos ativos totais; Europa: 29%; Ásia-Pacífico: 8%.

Embora essa companhia não desfrute de um monopólio em seu setor, são pouquíssimas as empresas de grande porte que não possuem negócios com essa instituição financeira.

Nos EUA, por exemplo, metades das doações feitas nesse país dependem da BlackRock para a administração dos recursos, bem como uma grande parte dos planos de aposentadorias também.

Hoje, a maior parte dos recursos geridos por essa empresa são oriundos de clientes institucionais, como governos, fundos de pensão, fundos soberanos, entre outros.

Desse modo, com tantos recursos sobre gestão, essa companhia está entre os principais acionistas das maiores companhias do mundo, tais como a Apple, ExxonMobil e os grandes bancos americanos”.

Como um Estado Colônia seria capaz de enfrentar tal poder?

A situação mundial, não apenas econômica, mas, principalmente, psicossocial e política, exige que países como o Brasil, tal como já fizeram a Rússia e a China, constituam governos nacionalistas, empenhados na conquista e manutenção das soberanias nacionais. Ao invés do que temos hoje e que o grande jornalista Romulus Maya denomina, no seu Duplo Expresso, “narcoevangelistão”. Uma união dos capitais ilícitos com igrejas neopentecostais, agências de golpes estadunidenses (DEA e CIA), britânica (MI6) e israelense (Mossad) e a participação dos marginais nacionais (Primeiro Comando da Capital – PCC paulista) e dos sistemas de repressão, policial e jurídica, ou seja, parte do Estado brasileiro.
Sem um Brasil Soberano, denominação do livro de 2009 do professor Marcos Coimbra, da UERJ e da Escola Superior de Guerra, nenhum projeto, por mais justo e social que seja, terá condição de enfrentar um ataque destas forças financeiras, verdadeiras fontes de corrupção e desnacionalização.

Este é o único caminho dos nacionalistas, dos brasileiros patriotas que honram o Patriarca da Independência e o notável conjunto de gaúchos positivistas e trabalhistas que dão título a este artigo.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

Transcrito do Portal Pátria Latina