Os direitos dos povos indígenas têm sido negociados e entregues à bancada ruralista, que já tem o controle das ações da Funai em Brasília e nas regiões.
Tais crimes têm acontecido na esteira de discursos racistas e ações ditadas pelo governo federal, como o incentivo a invasões às terras indígenas

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) vem a público para denunciar e repudiar mais um atentado com vítimas fatais contra o povo Guajajara, no estado do Maranhão, e contra um indígena Tuiuca, no Amazonas.
Neste sábado (7) um grupo de lideranças indígenas Guajajara retornava de uma reunião com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Eletronorte quando foram atacados e atingidos por vários disparos de arma de fogo na BR 226, no município de Jenipapo dos Vieiras (MA).
Os dois indígenas assassinados são os caciques Firmino Praxede Guajajara, da Terra Indígena Cana Brava e Raimundo Belnício Guajajara, da Terra Indígena Lagoa Comprida; outros dois indígenas encontram-se gravemente feridos. Os disparos foram praticados por criminosos que estavam em um veículo Celta branco.
Lembramos que em 1º de novembro, a liderança Paulo Paulino Guajajara foi assassinada dentro da Terra Indígena Araribóia, também no Maranhão, atacado por invasores durante emboscada onde Laércio Souza Silva Guajajara acabou alvejado no braço e nas costas, mas felizmente sobreviveu. Até esta data o crime não foi solucionado e os criminosos seguem não identificados e presos.
Neste contexto, ressaltamos ainda que na última segunda feira, dia 2, foi vítima de espancamento e violência extrema o indígena Humberto Peixoto, do povo Tuiuca, do Amazonas, que trabalhava na Cáritas Arquidiocesana. O indígena veio a óbito também neste sábado (7).
Tais crimes, contanto ainda com atentados, ameaças, tortura e agressões ocorridas por todo país contra essas populações, têm acontecido na esteira de discursos racistas e ações ditadas pelo governo federal contra os direitos indígenas. O presidente Jair Bolsonaro tem dito e repetido, em vários espaços de repercussão nacional e internacional, que nenhum milímetro de terra indígena será demarcado em seu governo, que os povos indígenas teriam muita terra e que atrapalham o ”progresso” no Brasil.
Bolsonaro repetiu este discurso na abertura dos trabalhos das Nações Unidas em setembro deste ano, quando várias terras indígenas ardiam em fogo, principalmente na região Amazônica. Também no mês de setembro o ministro das Minas e Energia disse que estava preparando um Projeto de Lei para ser enviado ao Congresso com o objetivo de regulamentar a exploração de minérios e outras atividades da agropecuária nos territórios indígenas.

Após o ataque, em
protesto, indígenas Guajajara fecharam a BR-226. Crédito da foto: Divulgação
Os direitos dos povos indígenas têm sido negociados e
entregues à bancada ruralista, que já tem o controle das ações da Funai em
Brasília e nas regiões. Nestes últimos dias, o atual presidente da Funai, Marcelo Xavier,determinou que todos os servidores sejam obrigados a solicitar sua autorização para prestar assistência às comunidades indígenas, além de proibir o deslocamento de servidores a terras indígenas não homologadas e registradas.
Seguindo
com o projeto de isolar as aldeias das políticas públicas estatais e de
desvirtuar a Funai da missão de proteger e promover os direitos dos povos
indígenas, Xavier manifestou desinteresse do órgão indigenista em ações
judiciais que discutem demarcações de terras indígenas e substituiu antropólogos
de larga experiência técnica em Grupos de Trabalho criados para proceder
estudos de identificação e delimitação de terras indígenas por ‘pessoas de
confiança’, sem competência para o trabalho.
O
Ministério da Justiça, ao qual a Funai é subordinada, está omisso e o ministro
Sérgio Moro se nega a receber os representantes indígenas que têm solicitado
audiências para resolver pendências territoriais.
A ação propositada do governo federal de instrumentalização da
política indigenista, em favor dos interesses econômicos dos ruralistas, mineradores e
madeireiros, é grave e irresponsável, atenta contra a Constituição
Federal e contra todos os acordos e convenções internacionais de proteção dos
povos originários, dos direitos humanos e do meio ambiente.
O
atentado contra lideranças indígenas Guajajara, neste sábado, é de
responsabilidade das autoridades do governo federal, que têm negado os direitos
indígenas, incitado o preconceito e o ódio na população e acobertado a invasão
dos territórios e a violência física contra os povos.
Vimos,
portanto, conclamar às autoridades a se submeterem à Constituição Federal de
1988, que concebe os povos indígenas como cidadãos brasileiros com seus
direitos garantidos. Exigimos imediata e isenta apuração dessa onda de crimes
contra os povos, que os criminosos sejam identificados e penalizados nos termos
da legislação brasileira. Que as autoridades não deixem mais esse crime
contra as lideranças indígenas ficar na impunidade como sempre tem acontecido.
O Cimi se
solidariza com os familiares das lideranças assassinadas e feridas, com os
povos Guajajara e Tuiuca e com todos os povos indígenas do Brasil nesse momento
de profunda dor e indignação.
Brasília,
7 de dezembro de 2019
Conselho
Indigenista Missionário (Cimi)