Segunda, 1º
de setembro de 2014
Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ)
considerou que o laudo de exame de voz do Instituto de Criminalística Carlos
Éboli (ICCE), anexado ao processo de apuração do desaparecimento do pedreiro
Amarildo de Souza, coincide com o parecer técnico da Coordenadoria de Segurança
e Inteligência (CSI) sobre o caso, que identifica como sendo do soldado Marlon
Campos Reis, um dos denunciados no crime, a voz do homem que ligou para outro
policial fingindo ser o traficante Thiago da Silva Neris, conhecido como
Catatau. A ideia era atribuir ao tráfico de drogas a responsabilidade pelo
desaparecimento do pedreiro, torturado e morto em 14 de julho de 2013 por
policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha.
Segundo o ministério público, durante a ligação o soldado
faz supostas ameaças e diz que já botou o Boi na sua conta. Boi era o apelido
de Amarildo. Um laudo da Polícia Civil descartou a versão inicial de que a voz
seria do traficante Catatau. Para o MP-RJ, o laudo reforça as provas
apresentadas até agora, pelo órgão, sobre o desaparecimento do pedreiro.
Análise da Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia da
CSI, que comparou as vozes dos 34 policiais militares citados no processo,
descobriu que Marlon foi o autor da ligação, acompanhado do soldado Vital. Com
o telefone monitorado, eles foram a Higienópolis fazer a ligação. A
interceptação dos celulares particulares dos dois também identificou que eles
estavam na mesma Estação de Rádio Base da ligação.
Dentre as coincidências encontradas no laudo do ICCE e na
análise da CSI, o MP-RJ apontou a pronúncia da palavra "nove",
indicando total identificação na comparação de vozes. A análise indicou ainda
que “a fala questionada indicava a possibilidade de disfarce da voz do
falante”.
O laudo do ICCE, destacou também que os exames periciais
foram realizados por meio de comparações fundamentais nas características
linguísticas e sociolinguísticas, bem como de outros elementos informativos
obtidos a partir dos áudios questionados e a relação deles com o réu. “Foram
avaliadas também as características acústicas dependentes do locutor, obtidas
da voz do suspeito e da voz questionada”, indicou.
Conforme o MP-RJ, o processo do caso Amarildo, que tramita
na 35ª Vara Criminal, ingressará na fase de alegações finais. A denúncia do
órgão contra 25 policiais, por tortura, foi encaminhada à Justiça em outubro de
2013. Entre os denunciados, oito foram na modalidade omissiva, 17 por ocultação
de cadáver, 13 por formação de quadrilha e quatro por fraude processual.