Segunda, 13 de maio de 2011
Por Ivan de Carvalho
Três pesquisas de opinião pública foram feitas muito
recentemente, uma delas, tradicionalmente encomendada pela Confederação
Nacional da Indústria, imediatamente antes da saída de Antonio Palocci do cargo
de ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, e as outras duas,
logo após a saída de Palocci. Uma destas, feita pelo Instituto Vox Populi, que
tem trabalhado na realização de pesquisas eleitorais e de opinião para o governismo
e a outra pelo Instituto Datafolha, do grupo independente Folha de S. Paulo.
Surpreendentemente, mas não
inexplicavelmente, a pesquisa de opinião encomendada pela CNI não foi
divulgada. Notícias esparsas na mídia deram conta de que ela mostrava desgaste
da presidente Dilma. A causa fundamental de tal desgaste parecia óbvia – a
crise do rápido enriquecimento de Palocci, somada à falta de explicações dele e
à demora da presidente em resolver o assunto, o que só fez após Palocci se
apresentar espetacularmente (no sentido negativo) na sua entrevista exclusiva
de não-defesa ao Jornal Nacional, da Rede Globo.
A supostamente poderosa
Confederação Nacional da Indústria optou pela quebra da tradição para não
desagradar o governo e a presidente e guardou a viola no saco. Feitas após a
dispensa de Palocci (apresentada formalmente como uma iniciativa dele de sair
do cargo e com uma encenação de elogios e aplausos para enfeitar o evento), as
pesquisas Vox Populi e Datafolha mostraram que a presidente conseguiu, até
certo ponto, manter (ou recuperar?) seu prestígio.
Pelo Datafolha, cuja pesquisa foi divulgada ontem
e realizada na quinta e sexta-feiras, a presidente Dilma sobe de 47 por cento
de ótimo e bom da pesquisa anterior para 49 por cento. Analistas sustentam que
a proximidade com Lula (que, aliás, interferiu diretamente e até ostensivamente
nas articulações sobre a crise) ajudou Dilma a evitar um desgaste maior, que
também poderia ter como causa, além da crise política, a pressão inflacionária
refletida nos preços, sobretudo dos alimentos. A participação de Lula como
conselheiro-articulador nas decisões do governo Dilma é aprovada por 64 por
cento dos entrevistados.
Mas a presidente sofreu alguns desgastes sérios. Somente
um terço dos entrevistados aprovou a condução que deu à crise. Para 57 por
cento (maioria) dos entrevistados, a presidente conhecia os clientes da Projeto
Consultoria, empresa de Palocci que esteve no núcleo do escândalo. Palocci
disse na entrevista ao Jornal Nacional que não informara sobre isto à
presidente. A maioria dos entrevistados não acreditou nele neste ponto. A
versão oficial ou oficiosa é que a presidente não conhecia nem conhece. Mas
deveria, antes de nomeá-lo ministro-chefe da Casa Civil. Aliás, pesquisas tipo tracking realizadas após a entrevista ao
JN mostraram baixíssimo índice de credibilidade da entrevista e há informação
de que contribuíram para que, finalmente, embora com muito atraso, a presidente
tomasse sua decisão.
Curioso é que, embora a avaliação da presidente
tenha passado de 47 para 49 por cento, na soma de ótimo e bom, 60 por cento
hajam considerado que a crise prejudicou o governo dela, o que, a curto prazo,
é um fato. A prazo maior, as substituições podem até ajudar, embora existam
enormes dúvidas (dos políticos aliados ao governo) quanto ao futuro desempenho
da senadora Ideli Salvatti no Ministério das Relações Institucionais. Isto
porque gritar, confrontar e brigar é com ela mesma, sempre foi. E agora sua função
será de articular, negociar e pacificar.
Mas, pelo que teria (em outras palavras) dito a
Sarney e Michel Temer, Dilma escolheu Ideli exatamente pelo seu estilo
“trator”, que internamente – não no trato com a sociedade, até aqui – também é
o dela. E o da senadora Gleisi Hoffmann, sucessora de Palocci na Casa Civil. Portanto,
é preciso esperar para ver no que dá tanto trator na pista.
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.