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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Governo do DF no velho caminho da pescaria. Para cobrir falhas vai cometer irregularidade

Segunda, 13 de junho de 2011
Governo do DF quer cobrir falhas com irregularidades

Em Brasília os Conselhos Tutelares, tão importantes para as crianças e jovens que vivem em situação de risco, encontram-se num estado de penúria. Sem quase nada de ajuda do governo, sem mínima estrutura física e de pessoal, tais conselhos vivem apenas da dedicação e do tempo a eles dispensados pelos conselheiros.

Mas essa dedicação não é suficiente para cumprir, nem sequer de longe, a missão dos conselhos. O governo do DF teria que ajudar, mas não ajuda.

Já houve visitas de comissões de deputados distritais a alguns dos Conselhos e foram constatadas as denúncias de total falta de condições para atuarem.

Depois de muita chiadeira, denúncias, pressão e até paralisação dos conselhos, o governo Agnelo resolveu se mexer. Mas vai se mexer errado.

O que se conseguiu até agora foi uma promessa de audiência pública na Câmara Legislativa no próximo dia 20, para se tratar do assunto. Espera-se que o governo do DF se faça presente, não se comporte como na audiência que houve para discutir a saúde —que vive um caos—, ocasião em que o secretário da pasta sequer deu as caras por lá.

Mas o governo Agnelo acenou com uma medida paliativa. Promete nomear três técnicos administrativos para cada conselho, o que no final resultaria em 99 nomeações, pois que há no momento 33 conselhos tutelares no DF.

Acontece que essas nomeações, prometidas como foram, chegariam carregadas de ilegalidade. O governo quer fazer isso nomeando os famosos “comissionados”, quando deveria nomear concursados que esperam ser nomeados. Pretende fazer uma chamada pública com o recolhimento de currículos para preenchimento dessas vagas. E todo mundo sabe a quais fins se prestam essas “chamadas públicas para recolhimento de currículos”.

As atividades executadas por técnico administrativo é, segundo a lei, próprias da área fim. Assim, devem ser exercidas por servidores públicos concursados, vez que não se enquadram nas áreas de direção, chefia e assessoramento, únicas que podem ser exercidas por pessoas nomeadas sem concurso. Este tem sido inclusive, até por que não poderia deixar de ser, o entendimento dos tribunais brasileiros.

Se o governo Agnelo quiser realmente minorar as agruras por que passam os conselhos tutelares, e não apenas atender aos pedidos de nomeações de “peixes”, deveria aproveitar o cadastro de reserva de técnicos administrativos da área da assistência social. Cadastro que conta com 409 pessoas aprovadas em concurso público de 2010 realizado pela Secretaria de Justiça Direitos Humanos e Cidadania.

Barraco à vista. Essa é a previsão caso o governo continue com a intenção de nomeações dos 99 “comissionados” não concursados. Há uma decepção junto aos concursados que estão sendo preteridos pelas nomeações dos “peixes”. Eles, os concursados, estão se organizando para realizarem um protesto, seguido inclusive de acampamento em frente ao Buriti, o que deverá ocorrer, prometem, já nesta semana.

Eles lembram que o governo Agnelo demitiu mais de 18 mil “peixes” do governo passado. Mas enveredou também pela mesma prática da pescaria de "peixes", aquele velho caminho de nomear gente sem concursos para cargos que devem ser providos tão somente por concursados. Até agora o governo do novo caminho segue no passo dos caminhos anteriores, nomeando mais de 15 mil servidores sem concurso. E isso por que se encontra ainda nos primeiros seis meses de exercício de governo.

Outro flanco da luta dos concursados é a entrega de um abaixo-assinado que será entregue ao secretário da Criança Dioclécio Campos Júnior. Dioclécio é o secretário responsável pelo atendimento da criança e da juventude em situação de risco.

É bom lembrar aqui que não se fala apenas em situação de risco nas ruas. Dentro de casa, também. Casos de maltratos de crianças por pais e parentes, abuso sexual, normalmente passam pelos conselhos tutelares.