Terça, 7 de junho de 2011
Por Ivan de Carvalho

Ontem, por
sinal, Hugo Chávez, o incrível ditador-presidente da Venezuela, estimulou
Palocci a ter “fuerza, fuerza”, mas não esclareceu se seria força para sair ou
para ficar no cargo. Talvez fosse algo assim como “fuerza, amigo, suporta el
tombo”.
Ora,
a presidente vai consultar para ouvir opiniões de que o atual ministro deve
permanecer ou deixar o cargo e, naturalmente, o governo? Se é isso, ela haverá
de descobrir que está perdendo um tempo precioso, ao não fazer logo o que
deverá fazer um pouquinho mais adiante, sejam quais forem as opiniões que ouça
em suas consultas (não confundir com consultorias que, no caso, são de Palocci
e coisa bem diferente).
Também
tem sido escrito, como hipótese possível, que a demora em curso no desfecho
político (não se pode descartar um posterior desfecho jurídico) levaria em
conta a espera de um pronunciamento formal do procurador geral da República,
Roberto Gurgel. Ele pediu informações a Palocci sobre seu enriquecimento e as
recebeu, só que extremamente sintéticas. As informações que enviou à PGR terão
representado muito pouco além das que deu (na verdade, não deu) na entrevista
exclusiva ao Jornal Nacional, da Rede Globo.
Como
estas últimas não satisfizeram a nação, as que foram encaminhadas a Gurgel,
pode-se apenas supor, claro, não o terão deixado satisfeito. Mas aí o caso não
é de satisfação ou não, mas de decisão de abrir uma investigação criminal. Uma
investigação civil pública para examinar se houve ou não improbidade
administrativa já foi aberta pela procuradoria da República no Distrito
Federal.
Pode-se
admitir, só como hipótese, aliás muito improvável, que a presidente esteja
esperando para ver se Gurgel abre ou não a tal investigação. Se não abrir,
Dilma manteria Palocci, caso contrário, o dispensaria. Mas, como dito, tal
hipótese é muito improvável.
Em
relação à decisão de Gurgel, o que talvez mova a presidente seja a esperança de
que o procurador geral decida não abrir a investigação. Pouco depois, ela
dispensaria Palocci (melhor, Palocci é que pediria para sair), mas contando com
essa atenuante da não abertura de investigação criminal pela PGR.
O risco é que
Gurgel decida pela abertura da investigação (o que, devido às circunstâncias e
ao conjunto dos fatos, parece ser o seu dever). Se Palocci sai depois que isto
acontecer, ruim para ele, mas muito pior, feio mesmo, para a presidente Dilma,
por não haver se antecipado. A mídia divulga que uma pesquisa de opinião
pública já acusa expressivo desgaste da presidente Dilma causado pelo Caso
Palocci. Melhor dizendo, pelo Segundo Caso Palocci, pois o primeiro foi o do
caseiro Francenildo, sua mansão e sua poupança.
É bom notar:
Palocci não pode ser maltratado. Ele foi posto no governo por Lula e sabe quase
tudo de tudo deste governo, da recente campanha eleitoral, do governo passado,
do PT. É um patrimônio político para ninguém botar defeitos, apesar deles.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia
desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.