Sábado, 4 de maio de 2011
Por Ivan de Carvalho

Ante
a inevitabilidade de tentar explicar-se com a população, o ex-ministro da
Fazenda do governo Lula e atual ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da
República do governo Dilma Rousseff (cargo para o qual, faça-se justiça, foi
indicado quase irrecusavelmente por Lula) descartou, de plano, o instrumento da
entrevista coletiva. E nisto teve não somente concordância quanto
aconselhamento não só de sua assessoria como do governo.
É claro que
na situação política extremamente delicada em que está, a entrevista coletiva
seria uma ameaça terrível. As coletivas dão chances a questionamentos não
previstos, inesperados e ao questionamento das respostas, podendo chegar a
gerar quase que debates entre jornalistas e, no caso, o ministro, para
aprofundar um fato que eventualmente esteja sendo insuficientemente explicado
pelo entrevistado. Uma hipótese para nem pensar.
Daí a
entrevista exclusiva a um veículo escolhido. E o surgimento da questão de ser a
entrevista ao vivo, como em um caso desse porte seria normal, ou gravada, o
que, em tese, permite, afinal – embora não seja correto – corrigir derrapagens
mais ou menos perigosas. A proposta do ministro foi de uma entrevista gravada
em Brasília, embora a Globo haja tentado a entrevista ao vivo, ainda que por
intermédio de um link que permitiria o ministro permanecer em Brasília, sem
precisar ir ao estúdio em que estariam os entrevistadores. Ah, Palocci também
desejou deixar para falar no início da semana, preocupado com a hipótese das
reportagens de fim de semana trazerem algum fato novo que contrariasse o que
falasse ontem na TV – caso em que seria uma bagaceira. Mas foi pressionado pelo
governo a falar ontem mesmo.
Vamos todos
nós, os telespectadores-cidadãos, ter a oportunidade de ouro de verificar as
condições das cordas vocais do ministro, pois se resistiu durante 20 dias a dar
explicações públicas sobre o que se levanta contra ele e se, mesmo as
explicações privadas – ao comando de seu partido, aos senadores do PT e ao
procurador geral da República foram tão discretas como mostrou o farto
noticiário desses dias – que outra coisa iria ele nos oferecer na telinha além
da sonoridade mais ou menos agradável de suas cordas vocais?
Estou com uma
certa pena do ministro. A comissão executiva nacional do PT fez reunião esta
semana e resolveu não defendê-lo. Não emitiu nota oficial, porque isso poderia
ser o tiro de misericórdia, mas deixou claro que o problema Palocci é dele e do
governo, não é do PT (que, só por acaso, imagino, é o partido do governo e no
governo). E o presidente petista Rui Falcão deu-se ao luxo de declarar que o
ministro deve se explicar – coisa que a oposição vinha dizendo há 20 dias.
Aliás, tem muita gente no PT querendo arrancar Palocci do governo.
Aliás, do
lado governismo-petismo, quem saiu na frente dizendo que a evolução
econômico-financeira do ministro causa estranheza foi o governador Jaques Wagner,
uma das lideranças de proa do PT no país. Ele apenas ressalvou que, sendo do
PT, está “solidário” com Palocci, “até prova em contrário. E então,
nos seus calcanhares, pronunciou-se na mesma linha, cobrando explicações, sem
maiores ressalvas, o senador Walter Pinheiro. Surpreendido talvez pelo próprio
silêncio, o deputado Pelegrino, que por falta de sorte era o líder da bancada
do PT na Câmara na época do Mensalão, o que acabou lhe custando caro, fez soar
as próprias cordas vocais no pedido de explicações que o presidente do
Congresso, senador Sarney, repetiria ontem, praticamente “saindo de baixo”.
Porque o
ministro, lá do alto onde esteve, despenca feito um bólido.
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Este artigo
foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de
Carvalho é jornalista baiano.