Sábado, 6 de setembro de 2014
Por
Siro Darlan,
desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Coordenador Rio da Associação
Juízes para Democracia.
Há algum tempo
andaram falando que os juízes deveriam julgar sem mostrar o rosto. Eram os
chamados Juízes sem rosto, numa clara alusão ao medo que alguns juízes tinham de
sofrer represálias em razão de suas decisões judiciais. Felizmente a moda
passou e venceu o bom senso. Onde já se viu juízes com medo? Não são juízes
aqueles que se trancam nas folhas dos processos e se envergonham de suas
decisões ou têm medo das consequências delas.
Ser juiz, como em
todas as profissões tem seus riscos pertinentes às atividades e
responsabilidades. O juiz como todo cidadão deve participar da vida social e
política de sua comunidade para sentir o calor das causas que ira julgar já que
prolatar uma sentença significa sentir o conflito que lhe é submetido e
encaminhar a solução na interpretação legal bem fundamentada. É certo que sua
decisão não pode sofrer qualquer forma de pressão interna ou externa. Por isso
é lastimável quando por via de indevidas intervenções extra-autos juízes são
pressionados na livre manifestação de suas decisões judiciais.
A cultura terrorista
do medo é sempre utilizada para impor interesses que não são capazes de
convencer pelos meios legais ou morais, como no caso da mídia manipuladora que
tenta, pelos meios de comunicação, combater certos candidatos através de
perseguições políticas ou impor outros através de uma propaganda positiva, como
já aconteceu na eleição de um presidente da república em nosso país.
É chegado o momento
de superar a ignorância, alimentada pelo medo, e as formas fingidas de se
posicionar. A cultura do medo não favorece a valorização de um, ser humano
menos egoísta, não consumista, mais solidário, mais culto, mais participativo,
nem a efetivação dos preceitos da liberdade e da dignidade. Foi essa prática a
responsável pelo silêncio imposto à sociedade brasileira através da violência
da quebra da institucionalidade que nos blindou com a censura imposta a todos
os meios de comunicação e acadêmicos.
A tentativa de
ressureição da cidadania com os gritos de julho de 2013 foi novamente calada
por meios semelhantes. O gigante despertado pelos gritos dos jovens foi outra
vez abatido pela força da repressão mascarada de legalidade. Foram os braços
“armados” por instrumentos legais casuísticos que calaram as vozes da
participação popular na busca do aperfeiçoamento das instituições republicanas.
Novamente uma mídia comprometida com a posição conservadora de um estado
policialesco que em tudo intervém e tudo controla, inclusive com infiltração de
seus agentes, conseguiu macular a pureza de um movimento popular e promover a
volta ao marasmo conveniente aos detentores dos poderes e privilégios.
Não podemos nos
deixar vencer pelo terrorismo do medo, nem das ameaças de calar nossas vozes
através de processos que visam impedir a livre manifestação do pensamento.
Precisamos manter o otimismo para a construção de um mundo no qual se possa
dizer o que se pensa, com respeito às posições contrárias, com apelo à racionalidade
e o interesse voltado para o conjunto da humanidade. Não podemos ter medo do
grito e sim do silêncio, porque é nele que se operam as tratativas, as
negociatas e os conchavos. E devemos todos ter medo do silêncio que se tentam
impor a quem tem alguma contribuição para dar ou mesmo alguma coisa para falar.
Fonte: Blog do Siro
Darlan
http://www.blogdosirodarlan.com