Quarta, 26 de novembro de 2014
Ana Cristina Campos - Repórter da Agência Brasil
Crianças e jovens participam de oficinas de capoeira e
dança oferecidas pela organização não governamental Viva Rio Haiti
Dança, luta, símbolo de resistência e uma das manifestações
culturais mais conhecidas no Brasil, a roda de capoeira recebeu hoje (26) o
título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Após votação durante a 9ª Sessão do Comitê
Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, em Paris, a roda
de capoeira ganhou oficialmente o título.
A presidenta do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado, presente na sessão do comitê, explicou
que as políticas de patrimônio imaterial não existem apenas para conferir
títulos, mas para que os governos assumam compromissos de preservação de seus
bens culturais, materiais e imateriais.
“O reconhecimento representa um tributo à capoeira como manifestação
cultural importante que durante séculos foi criminalizada, além de dar
visibilidade internacional. Além disso, reconhece que o Brasil tem políticas
públicas para cuidar do seu patrimônio cultural”, disse Jurema em entrevista à Agência Brasil.
Segundo ela, um bem registrado como Patrimônio Cultural
Imaterial da Humanidade garante mais respaldo ao governo para apoiar, com
recursos públicos, iniciativas de preservação do bem cultural, com o incentivo
à transmissão do conhecimento e a formas de organização dos capoeiristas. A
roda de capoeira é reconhecida como patrimônio cultural pelo Iphan desde 2008.
No dossiê de candidatura, o Iphan enumerou uma série de
ações para difundir a modalidade e propõe medidas de salvaguarda orçadas em
mais de R$ 2 milhões, como a produção de catálogos e encontros. O documento
destacou que o registro vai favorecer a consciência sobre o legado da cultura
africana no Brasil e o papel da capoeira no combate ao racismo e à
discriminação. O dossiê lembra que a prática chegou a ser considerada crime e
foi proibida durante um período da história. Hoje, a capoeira é praticada em
muitos países.
“O reconhecimento da roda de capoeira pela Unesco é uma
conquista muito importante para a cultura brasileira. A capoeira tem raízes
africanas que devem ser cada vez mais valorizadas por nós. Agora, é um
patrimônio a ser mais conhecido e praticado em todo o mundo”, destacou, em
nota, a ministra interina da Cultura, Ana Cristina Wanzeler.
Além da presidenta do Iphan, a diretora do Departamento de
Patrimônio Imaterial (DPI-Iphan), Célia Corsino, diplomatas da Delegação do
Brasil junto à Unesco e capoeiristas brasileiros também acompanharam a votação,
entre eles os mestres Cobra Mansa, Pirta, Peter, Paulão Kikongo, Sabiá e Mestra
Janja.
Segundo o Ministério da Cultura, o Iphan deu apoio aos
capoeiristas para fazer amplo inventário dos grandes grupos de capoeira e
mestres no Brasil e ajudou-os a instalar comitês estaduais distribuídos pelo
país. Neles, capoeiristas podem formular reivindicações e compromissos
relacionados à salvaguarda e à promoção dessa manifestação cultural.
Com o título, a prática cultural afro-brasileira reúne-se
agora ao Samba de Roda do Recôncavo Baiano (BA), à Arte Kusiwa- Pintura
Corporal (AP), ao Frevo (PE) e ao Círio de Nazaré (PA), também reconhecidos
como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.