Quinta, 27 de novembro de 2014
Flavia
Villela - Repórter da Agência Brasil
Tecnologia
mapeia os 70 genes do nódulo e indica se o tumor é de baixo risco ou de alto
risco Marcello Casal/Arquivo/Agência Brasil
No Dia
Nacional de Luta contra o Câncer, comemorado hoje (27), médicos defendem a
incorporação do teste de perfil genético para o câncer de mama no rol dos
procedimentos da Agência Nacional de Saúde (ANS) e no Sistema Único de Saúde
(SUS). Disponível em algumas unidades particulares do país, a tecnologia
importada mapeia os 70 genes do nódulo e indica se o tumor é de baixo risco ou
de alto risco.
A
presidenta da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à
Saúde da Mama (Femama), Maira Caleffi, lamentou que hoje muitas mulheres acabem
tendo que passar por sessões de quimioterapia sem precisar.
“Na dúvida,
os médicos recomendam a quimioterapia. Metade dessas pacientes, em estágio 1,
com axila negativa e tumores pequenos, acaba tendo que fazer a quimioterapia
sem nenhum benefício significativo”, disse Maira. “A indicação é muito
restrita, e o teste pode ser incorporado ao SUS sem grandes repercussões nos
recursos públicos. Mas os critérios devem estar muito bem definidos para a
utilização desses testes”, alertou.
A
presidenta da Femama acredita que no futuro, com maior conscientização sobre a
importância do diagnóstico precoce, mais mulheres poderão se beneficiar com o
teste. “Essas pacientes são cada vez mais comuns. O triste é não ter esses
casos, pois muitas pacientes ainda aparecem com tumores grandes e axila
comprometida, que nem dá margem para dúvida: recomendamos a quimioterapia”.
De acordo
com a entidade internacional Early Breast Cancer Trialists Collaborative Group,
entre 30% e 40% das mulheres com câncer de mama no mundo não precisariam de
quimioterapia.
Para o
presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Ruffo de Freitas Junior, além
de poupar a mulher com tumor mais brando do uso da quimioterapia, o teste no
sistema público de saúde pouparia gastos.
“Essa
plataforma gênica separa de maneira exemplar e muito segura as pacientes que
vão precisar de quimio e as que não vão”, comentou. “O tratamento de
quimioterapia tem entre quatro e oito ciclos. Cada ciclo custa de R$ 6 mil a R$
8 mil. Atualmente, o estudo custa aproximadamente entre R$ 10 mil e R$ 12 mil.
Dois ciclos de quimioterapia já pagariam o teste”, argumentou o médico.
A
publicitária paulista Flávia Mantovanini, 43 anos, descobriu no exame de rotina
que tinha um tumor maligno de nível 2. Após a cirurgia, o médico indicou a
quimioterapia como forma de prevenção, mas Flávia optou por fazer o mapeamento
genético com recursos próprios para tentar evitar a químio.
“Com essa
identificação, vi que era um problema hormonal e que havia poucas chances de
voltar. É um exame caro, mas aceitei fazer, porque a quimioterapia é realmente
muito agressiva,” contou ela, que atualmente faz uso de remédio preventivo, que
terá que tomar por dez anos. “A operação foi há seis meses e estou ótima”,
disse.n
Um estudo
sobre o perfil de câncer de mama das mulheres de acordo com as regiões do país,
desenvolvido pela Universidade de São Paulo, aponta que os casos da doença são
mais comuns no Sul e Sudeste, porém mais agressivos no Norte e Nordeste.
Divulgado em outubro, o estudo mostrou que no Sul e Sudeste a incidência do
tumor triplo negativo (mais agressivo) é aproximadamente 14%, enquanto no Norte
o índice sobe para 20,3% e no Nordeste e Centro-Oeste vai para 17,4%. Já os
tumores do tipo luminal A (baixo risco) representam 30,8% dos casos relatados
na Região Sul e 28,8% no Sudeste. A frequência desse tipo de câncer cai para
24,1% no Nordeste, 25,3% no Norte e 25,9% no Centro-Oeste.