Sábado, 22 de novembro de 2014
Da Revista Veja
O doleiro Alberto Youssef disse à Justiça que Lula e Dilma sabiam do esquema de corrupção na Petrobras. Agora, mensagens encontradas pela PF em computadores do Planalto mostram que eles poderiam ter interrompido o propinoduto, mas, por ação ou omissão, impediram a investigação sobre os desvios
Robson Bonin e Hugo Marques
(Dida Sampaio/Estadão Conteúdo e Cristiano Mariz/VEJA)
Antes de se revelar o pivô do petrolão, o maior escândalo de
corrupção da história contemporânea brasileira, o engenheiro Paulo
Roberto Costa era conhecido por uma característica marcante. Ele era
controlador e centralizador compulsivo. À frente da diretoria de
Abastecimento e Refino da Petrobras, nenhum negócio prosperava sem seu
aval e supervisão direta. Como diz o ditado popular, ele parecia ser o
dono dos bois, tamanha a dedicação. De certa forma, era o dono — ou,
mais exatamente, um dos donos —, pois já se comprometeu a devolver aos
cofres públicos 23 milhões de dólares dos não se sabe quantos milhões
que enfiou no próprio bolso como o operador da rede de crimes que está
sendo desvendada pela Operação Lava-Jato. Foi com a atenção aguçada de
quem cuida dos próprios interesses e dos seus sócios que, em 29 de
setembro de 2009, Paulo Roberto Costa decidiu agir para impedir que
secassem as principais fontes de dinheiro do esquema que ele comandava
na Petrobras. Costa sentou-se diante de seu computador no 19º andar da
sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, abriu o programa de e-mail e
pôs-se a compor uma mensagem que começava assim:
O que se segue não teria nenhum significado mais profundo caso fosse
rotina um diretor da Petrobras se reportar à ministra-chefe da Casa
Civil sobre assuntos da empresa. Não é rotina. Foi uma atitude
inusitada. Uma ousadia. Paulo Roberto Costa tomou a liberdade de passar
por cima de toda a hierarquia da Petrobras para advertir o Palácio do
Planalto que, por ter encontrado irregularidades pelo terceiro ano
consecutivo, o Tribunal de Contas da União (TCU) havia recomendado ao
Congresso a imediata paralisação de três grandes obras da estatal — a
construção e a modernização das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e
Getúlio Vargas, no Paraná, e do terminal do Porto de Barra do Riacho,
no Espírito Santo. Assim, como quem não quer nada, mas querendo, Paulo
Roberto Costa, na mensagem à senhora ministra Dilma Vana Rousseff,
lembra que no ano de 2007 houve solução política para contornar as
decisões do TCU e da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional.
Também não haveria por que levantar suspeitas se o ousado diretor da
Petrobras que mandou mensagem para a então ministra Dilma Rousseff fosse
um daqueles barnabés convictos, um “caxias”, como se dizia antes nas
escolas e no Exército de alguém disposto a arriscar a própria pele em
benefício da pátria. Em absoluto, não foi o caso. Paulo Roberto Costa,
conforme ele mesmo confessou à Justiça, foi colocado na Petrobras em
2004, portanto cinco anos antes de mandar a mensagem para Dilma, com o
objetivo de montar um esquema de desvio de dinheiro para políticos dos
partidos de sustentação do governo do PT. Ele estava ansioso e
preocupado com a possibilidade de o dinheiro sujo parar de jorrar. É
crível imaginar que em 29 de setembro de 2009 Paulo Roberto Costa, em
uma transformação kafkiana às avessas, acordou um servidor impecável
disposto a impedir a paralisação de obras cruciais para o progresso da
nação brasileira? É verdade que às vezes a vida imita a arte, mas também
não estamos diante de um caso de conversão de um corrupto em um homem
honesto da noite para o dia.