Terça-feira,
20 de outubro de 2015
Vitor
Abdala* – Repórter da Agência Brasil
As
mortes provocadas pela polícia do Rio de Janeiro cresceram 18% neste ano, em
relação ao ano passado. De acordo com dados divulgados pelo Instituto de
Segurança Pública (ISP), os policiais mataram 517 pessoas entre janeiro e
setembro deste ano, ou seja, 79 a mais do que no mesmo período de 2014.
Essas
ocorrências são registradas nas delegacias como “autos de resistência”, ou
seja, os policiais registram o caso como sendo legítima defesa. Para
especialistas, a culpa é da política de segurança pública do estado, que
estimula uma guerra entre policiais e criminosos, sem buscar combater a origem
da criminalidade.
Segundo
a diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, essa
política de guerra também tem seu efeito negativo no lado dos policiais. De
janeiro a setembro deste ano, 21 policiais foram mortos em serviço no estado do
Rio de Janeiro, cinco a mais do que no mesmo período do ano passado.
“Isso
de algum modo faz parte da cultura organizacional que vê no enfrentamento ao
criminoso um mecanismo para controlar o crime”, disse.
Samira
Bueno acrescentou que esse comportamento, na prática, tem gerado muitas
vítimas. “Se não pensarmos numa reformulação do modelo de segurança pública,
não começarmos a rediscutir a política de drogas, não pensarmos em novos
mecanismos de prover segurança pública, dificilmente conseguiremos garantir a
vida dos agentes de segurança”, afirmou.
A
diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública disse que, além de retirar do
criminoso o direito ao devido processo legal, a morte provocada pelos policiais
também pode gerar vítimas inocentes. “Não são raros os casos de pessoas
inocentes, mortas em operações policiais, que acabam sendo registradas como
autos de resistência”, disse.
Morte
Em
maio do ano passado, Johnatha de Oliveira, de 19 anos, foi morto por policiais
da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Manguinhos, na zona norte da cidade
do Rio. Os policiais alegaram que o jovem estava atirando contra policiais
quando foi morto.
A família
dele, no entanto, disse que ele estava desarmado e tinha acabado de sair de
casa quando, durante, os policiais começaram a atirar. Um dos tiros atingiu o
jovem.
A
morte de Johnatha foi investigada e os responsáveis identificados. No entanto,
quase um ano e meio depois, o julgamento ainda está na fase de instrução. “Eu
quero que, quem tirou a vida do meu filho, pague pelo erro que cometeu. Meu
filho tinha uma vida toda pela frente. Ele tinha sonhos, que foram tirados por
causa de uma política de segurança pública em que a vida da favela não tem
vez”, disse a mãe de Johnatha, Ana Paula Oliveira.
Em
nota, a Secretaria de Segurança Pública do estado informou que prioriza a
preservação da vida, por isso tem premiado policiais integrantes de batalhões
que tenham diminuído índices de “letalidade violenta”, indicador criminal que
soma homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e os autos de
resistência.
Além
disso, de acordo com a secretaria, diversas medidas foram tomadas para diminuir
os índices de mortes em confronto, como a diminuição do uso de fuzis, a criação
do Centro de Formação do Uso Progressivo da Força para policiais e a
implementação da Divisão de Homicídios, que investiga todas as mortes
decorrentes de intervenção policial.
*Colaborou Tâmara Freire