Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O Dossiê da violência

Quarta, 2 de novembro de 2015
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Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a Democracia.

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O Instituto de Segurança Pública, órgão da Secretaria de Segurança Pública divulga os dados de mais um Dossiê Criança e Adolescente. Os dados são muito interessantes porque revela o grau de falta de cuidado e de violência atribuída a pessoas vulneráveis em processo de desenvolvimento e credora pela norma constitucional de proteção integral.  O Dossiê aponta um aumento de 46,7% nos últimos cinco anos entre as vítimas menores de 18 anos.
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Considerando que só a polícia do Rio de Janeiro tem uma média de mortes que alcança um jovem por dia, atingindo desde 2011, 2.510 vítimas de autos de resistência, conclui-se que a missão de dizimar a população jovem pobre e negra está próxima de alcançar seu objetivo.
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 Apontam os dados que a maioria das vítimas de violência sexual é de jovens entre 12 e 13 anos, 16,6% do total. Os técnicos afirmam que a maior vulnerabilidade entre as vítimas reside entre os jovens de 12 a 17 anos.  O dossiê informa que 70% das vítimas contra a dignidade sexual e a periclitação da vida e da saúde têm menos de 18 anos.
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Definitivamente não estamos sendo eficientes na garantia de proteção integral à infância e à juventude. Não há políticas públicas eficientes e não estão bem aparelhados os Juizados da Infância e da Juventude nem os Conselhos Tutelares.
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No entanto, quase como para justificar tanta violência, no capítulo dos adolescentes em conflito com a lei os dados não guardam compromisso com a realidade. Afirmam ter tido um aumento de 165% de autuados em flagrante, tendo os números passado de 4.039 para 10.732, o que compromete a credibilidade de tal documento. A julgar pelos números o Sistema DEGASE, cuja capacidade operacional não é maior que 2500 adolescentes em cumprimento das medidas de semiliberdade e internação, estariam acolhendo hoje mais de dez mil adolescentes. Esses números não correspondem à realidade. E por que razão?
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Na verdade os números numa demonstração grave de manipulação foram engordados com as apreensões ilegais, refutadas pelo Ministério Público e pelos organismos de defesa dos direitos de crianças e adolescentes, de jovens da periferia que se dirigiam às praias da zona sul sem que tenham praticado qualquer ilicitude.
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Essas apreensões engordaram os dados estatísticos uma vez que cada ônibus representava no mínimo 40 jovens apreendidos e contra os quais não houve qualquer representação ou processo judicial.
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É de grande relevância a divulgação desses dados para que a sociedade possa refletir o quanto é necessário fazer funcionar com urgência o Sistema de Garantia de Direitos de crianças e adolescentes, e como seria ineficaz a redução da maioridade penal, sobretudo se houver um investimento prioritário na proteção integral dos jovens brasileiros em desenvolvimento.