Domingo, 6 de dezembro de 2015
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a Democracia.
Indiscutível
que a Vale é uma grande empresa nacional e que emprega muitos
trabalhadores e com seu negócio traz o desenvolvimento para o Brasil.
Contudo, diante do grau de degradação e poluição que causa o seu
negócio, deveria ressarcir a sociedade com muito mais em contrapartida.
Quantos
brasileiros são obrigados a abandonar suas terras de origem para viver
nas grandes cidades em razão dos negócios da Vale? Quantos passam a
serem vítimas da violência em razão dessa migração? Quantas crianças e
adolescentes tem seus direitos fundamentais desrespeitados diante dessa
grande concentração de pessoas onde não há políticas públicas
necessárias.
A
Vale e seus parceiros são responsáveis pelo maior desastre ambiental da
história. Destruíram vidas e possibilidade de vida, deixando morto o
rio que lhe batizou.
Matou
o meio ambiente, os peixes que alimentavam a população ribeirinha,
destruiu a água que saciava a sede das pessoas. Os valores das multas
aplicadas são risíveis diante da lucratividade da empresa se comparada
com os danos que causa ao meio ambiente.
A
sede da Vale é no Rio de Janeiro e não me consta que a Vale tenha
contribuído com um único centavo para o Fundo da Criança e do
Adolescente.
E
isso não lhe custaria nada, já que pode aplicar um por cento de seu
imposto de renda devido no financiamento de políticas públicas em prol
das crianças e adolescentes do município que a acolheu.
Talvez
uma parcela desse investimento servisse para curar milhares de crianças
vítimas das drogas, da violência doméstica, do abuso sexual, mas,
sobretudo do analfabetismo crônico que vitimiza todos os jovens em idade
escolar no Rio de Janeiro.
Evidente
que essa “esmola” não lhe retira a responsabilidade pelos danos que
causa a humanidade com suas atividades poluentes e destruidoras da vida
no planeta.
Porém
ao menos reduziria com um investimento maciço nas crianças e
adolescentes a violência que sofrem e sofrerão ainda mais nossos filhos e
netos quando, em razão dessa atividade capitalista lhe faltar água, ar e
meio ambiente que lhe permita sobreviver à destruição que a Vale do
extinto Rio Doce tem patrocinado.