Sexta, 10 de junho de 2011
Da "Auditoria Cidadã da Dívida"
O Jornal Le Monde Diplomatique / Brasil de junho traz artigo de Maria
Lucia Fattorelli (Coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida), que
desmonta a tese de que os juros altos são necessários para o controle da
inflação, conforme detalhado na edição de 8/6/2011 deste boletim. O
jornal traz em sua capa o gráfico do Orçamento Geral da União de 2010 -
elaborado pela Auditoria Cidadã – inserido na bandeira nacional.
O artigo também traz as investigações da CPI da Dívida, recentemente
concluída na Câmara dos Deputados, cujo Relatório Final – aprovado pela
própria base do governo e pelo PSDB – reconheceu que os juros altos
foram a principal causa do crescimento da dívida pública. Ou seja: a
dívida não serviu para financiar projetos de desenvolvimento econômico e
social do país, mas decorre de mecanismo eminentemente financeiro:
“juros sobre juros”, já considerado ilegal pelo Supremo Tribunal
Federal.
Conforme mostra o artigo, a maior parte da inflação tem sido causada
por fatores que não podem ser combatidos pela alta de juros, tais como o
aumento dos preços administrados pelo próprio governo (combustíveis,
tarifas públicas, etc) e a especulação com o preço dos alimentos.
Mas os rentistas querem mais. O jornal Valor Econômico de hoje mostra
que o Banco Central (BC) deve continuar com a política de juros altos,
sendo que há possibilidade de mais aumentos na taxa, que já é –
disparadamente - a mais alta do mundo. O jornal traz a fala de um
representante dos rentistas, admitindo que esta postura do BC faz com
que o “mercado” espere ainda mais aumentos de juros. Ou seja: a própria
autoridade monetária estimula a pressão do mercado sobre si mesma.
Por fim, outra notícia do jornal Valor Econômico mostra que o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) deve emprestar US$ 9 bilhões nos
próximos 4 anos para projetos relacionados à Copa do Mundo 2014, em
áreas de infraestrutura rodoviária, transporte público e saneamento
básico.
Sobre este tema, cabe comentar que, mesmo admitindo-se a hipótese de
que tais obras de infra-estrutura atendessem às necessidades mais
urgentes da população (e não às diretrizes associadas aos eventos da
Copa do Mundo), o país não precisaria tomar tais empréstimos caso não
tivesse de destinar cerca da metade do orçamento para o pagamento da
questionável dívida pública.
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