Quarta, 16 de
outubro de 2013
Por Ivan de Carvalho

E
não demorou a ter a demonstração de que a bola é quadrada: as empresas
Odebrecht e OAS, que eram as queridas e consideradas pule de dez na licitação,
na hora H não se apresentaram. Consideraram que o negócio não seria compensador
e se desinteressaram. Houve então uma licitação com um só consórcio
concorrente, coisa mais sem graça, ainda mais por envolver a Siemens, a mais
falada do ano pelas más línguas.
Mas
não estou escrevendo sobre o metrô, licitações, empreiteiras, bolas quadradas.
Pretendo escrever algumas linhas sobre abacaxis e por mero acaso (se existe
acaso) comecei com o já descrito, em homenagem à presidente Dilma Rousseff, que
nos deu a honra de, mais uma vez visitar a Bahia. Desta vez, trocando as areias
e águas da bela Inema pela burocracia da assinatura de papéis misturada com um marketing político de sentido eleitoral.
O tempo dirá se ou quando o que foi posto nos papéis sairá deles na forma de
equipamentos para a cidade. E se o número de votos que o marketing porá nas
urnas de 2014 será suficiente.
Mas
vamos deixar em paz e reflexão a presidente Dilma Rousseff com a sua
surpreendente constatação de que “tudo o que as pessoas que estão pleiteando a
Presidência da República querem é ser presidente” – ela inclusa, eu presumo – e
vamos a outros abacaxis, não muitos para que não extrapolem o espaço e não
encham a paciência do indulgente leitor. Anunciou-se, não sei bem se oficial ou
oficiosamente, que até o dia 15 de novembro (daqui a um mês, exatamente) será
decidido (e anunciado, pois decidido muitos dizem que já está) qual o candidato
do PT (entre os quatro supostos aspirantes) para o mandato de governador do
Estado a ser disputado em outubro de 2014. Nota o leitor que de repente o PT,
que se mostrava bastante malemolente na questão, se encheu de pressa?
Bem,
aos abacaxis. No governo e reeleito para exercer a partir de 1º de janeiro de
2011 o segundo mandato de governador, Wagner tinha em dezembro de 2010 nada
menos que 60 por cento de aprovação em pesquisa do Datafolha. Este ano, em
julho, havia caído para 28 por cento de aprovação. Todos se lembram da queda de
Dilma Rousseff e seu governo de maio ao fim de junho. Grande parte da queda da
aprovação de Wagner terá acompanhado em esse movimento quase geral no país. E
certamente uma parte da queda ocorreu por motivos locais. Agora, o governador
se dispõe – e, mesmo sem dizer o nome publicamente, ninguém imagina que esteja
fazendo segredo – levar o PT a apresentar o deputado e secretário-chefe da Casa
Civil, Rui Costa, a governador. E a conseguir para ele o apoio dos partidos da
base governista. O raciocínio básico é o de que, como ACM Neto, que seria
candidato forte de oposição, não pretende concorrer, o governo pode ganha mesmo
com um candidato avaliado em geral como difícil eleitoralmente.
Mas
acontece que as coisas não estão assim tão simples. O PSB vai sair da base
eleitoral governista e lançar a candidatura própria da senadora Lídice da Mata.
O PDT promoveu ontem, em uma churrascaria e com as bases municipais e mais de
40 deputados estaduais, um evento, prestigiado pelos presidentes nacional e
estadual do partido, Carlos Lupi e Alexandre Brust, para reafirmar e reforçar a
candidatura a governador de Marcelo Nilo, presidente da Assembléia Legislativa.
Nilo já declarou que, se ficar fora da chapa majoritária (governador, vice e
senador), seu partido manterá sua candidatura a governador. É outro abacaxi
para Wagner e o PT descascarem. Quanto ao atual vice-governador Otto Alencar,
mantém linha de total fidelidade ao governador Wagner, mas seu partido, o PSD,
presidido por Gilberto Kassab, ainda não decidiu exatamente o que vai fazer nas
eleições presidenciais (há uma tendência de apoiar a candidatura de Dilma Rousseff,
mas é só tendência, por enquanto). A definição do PSD em âmbito nacional vai gerar
reflexos no cenário sucessório baiano.
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Este artigo foi
publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é
jornalista baiano.