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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

EPTG: Uma via livre que serve para quase nada

Segunda, 28 de outubro de 2013
Carla Rodrigues
carla.rodrigues@jornaldebrasilia.com.br

As faixas exclusivas para ônibus da Estrada Parque Guará-Taguatinga (EPTG) estão praticamente inoperantes. O cancelamento da integração dos coletivos deixou os 12,6 quilômetros dos corredores ainda mais vazios, pois os ônibus precisam circular pelas marginais. Além disso, ao contrário da promessa anunciada pelo governo, a nova frota não está adaptada à ideia, e as portas continuam do lado direito. 

Sem entender o que aconteceu durante o processo, 500 mil motoristas e passageiros ainda sofrem diariamente com os antigos e longos congestionamentos nos horários de pico. Muitos chegam até a invadir as vias, permitidas somente para transporte público, escolares e táxis autorizados. Para boa parte deles, o sistema é um fracasso e a solução para os engarrafamentos estaria ali, nos espaços pouco utilizados da rodovia. 


“A gente tem a sensação de que o dinheiro público foi mal investido. Foi colocado em prol de uma coisa que não funciona como deveria. Já que isso acontece, por que não deixar os carros trafegarem nos corredores durante os horários de pico? Diante do quadro, seria o mais correto para toda a população”, questiona a engenheira Ana Bárbara Alves, 31 anos. Moradora de Águas Claras, ela enfrenta congestionamentos na via todos os dias. 

Sem alterações

Porém, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), responsável pela via pela qual passam diariamente meio milhão de pessoas,  é contundente quando questionado sobre a possibilidade de abrir os corredores em horários de pico. A resposta é curta: “Não”. O órgão informou ainda que até o fechamento do balanço de outubro foram registradas mais de 112 mil multas, referentes às faixas exclusivas da EPTG e Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB), que  também é administrada pelo DER. 

Corredor deveria ser liberado

O posicionamento do DER, contudo, é criticado pelo pesquisador da área de transportes Carlos Penna. Para ele, já que o governo não investiu  em metrô e optou por colocar novos ônibus rodando nas ruas, o problema dos congestionamentos diários da EPTG só seria resolvido parcialmente caso os corredores fossem abertos aos carros de passeio em determinados horários. “A quantidade de gente que transita pela via só poderia chegar e sair do Plano Piloto sem enfrentar dificuldades por meio de trens. Como isso não aconteceu, as faixas poderiam, sim, ter utilidade maior agora”, avalia.

Faltou planejamento para dar certo

Para o pesquisador da área de transportes Carlos Penna, a exclusividade das faixas para ônibus que não possuem portas adequadas é totalmente sem sentido. “Quando o governo faz corredores e diz que só circulares vão rodar ali, ele tem que fazer uma licitação pensando nisso. Ninguém soube ou sabe dizer o que aconteceu”, constata. O analista lembra, ainda, que pela via passam, diariamente, moradores do Guará,  de Taguatinga, de Águas Claras,  de Ceilândia, de Samambaia e de Brazlândia. 

Moradores desses locais confessam sempre pensar na possibilidade de liberar a via para todos os carros, já que alguns levam até mais de uma hora para chegar ao trabalho e, depois, em casa. “Até o momento, essas faixas são um desperdício de verba pública. Todos os dias a gente enfrenta o trânsito engarrafado e elas ficam ali, praticamente sem uso. A ideia de abri-las, nesses horários, talvez pudesse diminuir um pouco do tempo gasto”, observa o militar Luciano Silva, 35 anos, morador de Samambaia. 

Não pode deixar parado

Assim como ele, a aposentada Tereza Veiga, 66 anos, moradora do Guará Park, diz acreditar que todo o planejamento para as faixas exclusivas foi mal elaborado e, por isso, deve ter, agora, utilidade para a população. “Vai deixar parado? Não pode. Se fizerem um programa anunciando, explicando bem como vai funcionar o esquema, tenha certeza de que os moradores do Distrito Federal ficariam gratos”, ressalta. 

Cadê os ônibus?

Ao anunciar a inauguração das novas faixas, o diretor da autarquia Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), Marco Antônio Campanella, apontava para a economia de tempo aos passageiros dos semiexpressos em, pelo menos, 15 minutos, beneficiando 100 mil usuários do transporte público. Inicialmente, 80 dos 400 circulares que trafegam pela EPTG (20%) iriam operar nas linhas exclusivas. 

Mas hoje não se sabe ao certo quantos  passam por ali. “O interessante seria disponibilizar, de fato, os veículos adaptados para isso. Porque os passageiros ficam todos nas paradas das laterais, ninguém fica ali”, provoca o empresário Daniel Fabiano, 35 anos. 

Multas

O DER mantém o registro de todos os ônibus, táxis e vans escolares autorizados a utilizar as faixas. Caso veículos particulares de pequeno porte invadam a área privativa, segundo o órgão, são multados automaticamente, pois o sistema não reconhece as placas. Na EPTG, há 50 equipamentos eletrônicos de fiscalização (pardais), sendo 35 na via expressa e na faixa exclusiva de ônibus.

Não é solução

A ideia de liberar a circulação dos veículos de passeio nos corredores é pouco apoiada por especialistas em trânsito, que colocam a inoperância das vias como resultado da falta de planejamento e cobram: cadê os ônibus adaptados para as faixas? “Não houve uma gestão organizada no certame, porque a implementação da faixa foi feita bem antes da licitação. O governo já sabia daquilo. Como isso não foi previsto?”, cobra o professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília, Paulo César Marques. Especialista em trânsito, ele argumenta que a solução apontada por motoristas não é correta, já que aquelas vias nem existiam antes. “Se o governo abrir para uma operação provisória, dificilmente vai poder voltar atrás”, alerta. 

A reportagem buscou posicionamento do GDF, mas até o fechamento desta edição não teve retorno. 

Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br