Sexta, 25 de outubro de 2013
Isabela Vieira, repórter da Agência Brasil
 Rio de Janeiro – Entidades de direitos humanos recorreram à 
Organização dos Estados Americanos (OEA) para denunciar as 
circunstâncias da prisão de ativistas em protestos na capital fluminese.
 A organização não governamental (ONG)  Justiça Global e o Instituto de 
Defensores de Direitos Humanos (DDH) questionam os critérios para a 
prisão de 190 pessoas, dais quais sete permanecem detidas no complexo 
penitenciário de Bangu, onde estão os principais criminosos do estado. 
Quatro conseguiram habeas corpus hoje (25).
Segundo as entidades de direitos humanos, a prisão dos ativistas foi
 arbitrária e baseada em elementos frágeis. “Não tem uma prova material,
 não tem um vídeo, é só a prova testemunhal, normalmente o depoimento de
 um policial, que pode ser o mesmo acusado de ter cometido uma série de 
abusos”, disse a advogada da Justiça Global Natália Damazio, que 
participou da elaboração da denúncia, que critica também armas letais no
 protesto do último dia 15.
As instituições questionam também a aplicação da Lei de Organizações
 Criminosas (Lei 12.850), aprovada em agosto deste ano, contra os 
ativistas, prática considerada exagerada também pela Ordem dos Advogados
 do Brasil (OAB), e a recusa da Justiça em liberar os ativistas mesmo 
com o pedido de prisão retirado ou relaxado pelo Ministério Público do 
Estado. Há denúncia ainda de demora na execução de alvarás de soltura em
 24 horas. Alguns chegam a levar cinco dias.
Como exemplo de prisões arbitrárias nos protestos, as organizações 
destacam, entre 190 casos, o do morador de rua Rafael Vieira, detido há 
mais de 100 dias com um balde de água sanitária, álcool e uma vassoura 
nas mãos. “Eles estava indo limpar o local onde dorme quando foi pego na
 manifestação. Vários pedidos de liberdade foram negados porque ele não 
tem residência fixa. Este é exemplo de um caso especialmente 
arbitrário”, reforçou a advogada.
Para as entidades, outro caso que preocupa é o da estudante da 
Universidade Estadual do Rio de Janeiro Daniela Soledad dos Santos 
Barbosa, que chegou a fazer greve de fome
 até ontem (24) e está entre os presos que devem ser liberadas a partir 
de hoje. De acordo com a  Justiça Global, a prisão de Daniela foi 
fundamentada na declaração do policial que a prendeu, conforme registra o
 boletim de ocorrência.
“A aplicação dessa lei (12.850) é repleta de inconstitucionalidades,
 como o livre arbítrio das polícias nas detenções e imputação de crimes 
inafiançáveis. É uma lei que tem sido aplicada de forma abusiva, sem 
critérios, com intuito de repressão política e desmobilização”, disse 
Natália.
De acordo com a Justiça Global, que fez um ato em frente ao Tribunal
 de Justiça na tarde de hoje, as denúncias à OEA costumam ser 
respondidas em poucos dias. A organização deve cobrar do governo 
brasileiro uma respostas às denuncias. Além da liberdade dos ativistas, 
as entidades esperam impedir que condutas criminosas sejam atribuídos a 
outros manifestantes.
Procuradas pela Agência Brasil, a Secretaria 
Estadual de Assistência Social e a Secretaria de Direitos Humanos da 
Presidência da República não se pronunciaram sobre a denúncia à OEA.
 
 
 
