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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Itapuã comemora os 100 anos do nascimento de Vinícius de Moraes

Domingo, 20 de outubro de 2013
por Naira Sodré —Tribuna da Bahia
Publicada em 19/10/2013
Foto: Divulgação
O "poetinha" Vinicius de Moraes
O "poetinha" Vinicius de Moraes

Hoje [sábado], Itapuã amanhece em festa. Na praça Vinicius de Moraes, a partir das 16 horas, muita festa lembra o Poetinha, que estaria completando 100 anos. A festa, idealizada por Gessy Gesse, sua sétima mulher – (Vinicius casou nove vezes) vai contar com artistas, poetas, escritores, compositores, pescadores e quem mais chegar. É que Vinicius de Moraes faz parte da história e da cultura dos brasileiros. Nascido em 19 de outubro de 1913 no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, ele teve uma vida dedicada à palavra: foi diplomata, poeta, compositor, jornalista e dramaturgo.

Ela diz que não é lançamento é uma apresentação do amor. “É a minha biografia, onde traço a minha vida com o meu amor. O meu objetivo com esta homenagem é mostrar as diversas facetas do carioca, cujos versos foram eternizados. Vinicius também recebeu homenagens da Assembleia Legislativa baiana. Neste sábado, 19, será a vez de Maria Creuza, homenagear o poeta, cantando suas músicas em show a ser realizado na casa do Comércio. 

“Baianidade no sangue”

Em um papo descontraído, a atriz Gessy Gesse, sempre usando frases de músicas ou sonetos de Vinicius, repetiu uma frase do soneto de Fidelidade: o amor - Eu possa lhe dizer do amor (que tive):Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure. “Foi isto, é isto. Desejaria que todas as mulheres do mundo tivessem o amante, o amor, o companheiro, o marido que tive. Fui a sétima mulher do poeta e vivi sete anos com ele, cabalístico, não é? Brincou...

Para Gessy Gesse o que mais chamou a sua atenção foi que Vinicius tinha a baianidade no sangue. Era neto de baiano, amigo do povo. Em Itapuã, sua casa era frequentada por pescadores, os barraqueiros da praia eram seus amigos. Ele era muito simples. Foi isso que me chamou a atenção. Este foi o diferencial. “As outras que me perdoem”, mas não casei deslumbrada com um mito. Casei com um homem, que, enquanto na minha companhia participei do seu trabalho. Aqui, em Salvador ele produziu músicas que falam da beleza de Salvador e livros dedicado às crianças como as letras leves e lúdicas dos álbuns A Arca de Noé 1 e 2. Pergunto se era ciumenta, ela diz que sim,mas tinha paciência com  ele (Vinicius), que também era ciumento. A diferença de idade entre nós era de 31 anos. Mas eu não sentia essa diferença. Viviamos bem, com amor, até a separação.

A História de Vinicius

Formado em direito e diplomata de carreira até ser aposentado compulsoriamente em 1969, pela ditadura militar, Vinicius foi também cronista e escreveu para jornais e revistas reportagens cheias de lirismo sobre as cidades onde viveu. Foi crítico  de cinema, com análises aprofundadas sobre filmes e cineastas dos anos 40 e 50, e foi um importante autor teatral.

Foi exatamente essa última faceta – a de dramaturgo - que motivou a aproximação do poeta, para quem a vida era “a arte do encontro”, com Antonio Carlos Jobim, em 1956. O encontro, fundamental na trajetória de ambos e um marco na cultura brasileira, aconteceu porque Vinicius estava à procura de um compositor para as músicas de sua peça Orfeu da Conceição, que pretendia encenar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Definida pelo autor como “tragédia carioca em três atos”, a peça é uma transposição da história do mito grego de Orfeu para uma favela do Rio de Janeiro. Escrito em 1954, o texto também estava sendo adaptado para o cinema, com o título de Orfeu Negro, pelo cineasta francês Marcel Camus. O filme, que ficou pronto em 1959, ganhou – como produção francesa – a Palma de Ouro do Festival de Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro. A parceria com Tom, iniciada com as canções para a peça – as mais conhecidas são Se Todos Fossem Iguais a Você e Lamento no Morro, deu início a um movimento de renovação da música popular brasileira. Dois anos depois, em 1958, com João Gilberto e a sua inovadora batida no violão, e o lançamento do LP Canção do Amor Demais, com Elizeth Cardoso interpretando composições da dupla, esse movimento, que começava a ganhar forma, logo iria ser chamado de Bossa Nova.

“Vinicius de Moraes foi um divisor de águas na história da música popular brasileira. Um poeta de livro que de repente se torna letrista e traz para as letras da música brasileira uma grande densidade poética”, define o crítico musical Tárik de Souza. Mais do que parceiros, Vinicius de Moraes colecionou amigos, companheiros de boemia e da vida cotidiana. A troca ia muito além das rimas e notas musicais.

Para Tárik, que apresenta na Rádio MEC FM o programa  Bossamoderna, Vinicius exerceu um papel de catalisador na música popular, estimulando o surgimento de novos compositores. “Ele foi o primeiro parceiro do Edu Lobo, o primeiro parceiro do João Bosco, incentivou o Francis Hime e vários outros artistas a se dedicarem realmente à música, a partir de parcerias com ele. Vinicius tinha essa generosidade de lançar artistas e de abrir novas frentes, como ele fez com Toquinho, que foi o seu último grande parceiro”.
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Vinicius de Moraes/Toquinho - Tarde em Itapuã