Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Oposições se movem

Sexta, 4 de outubro de 2013
Por Ivan de Carvalho
         Terminando o prazo para filiações partidárias de candidatos às eleições gerais do ano que vem, o Democratas da Bahia promoveu ontem uma festa política no auditório do Edifício Senador Jutahy Magalhães – um dos prédios anexos da Assembleia Legislativa – para filiar três deputados ao partido e dar uma demonstração de presença ativa na política estadual.
         Os deputados que assinaram a ficha de filiação já faziam oposição ao governo do Estado, mas estavam em outras legendas. Dois no PR, presidido pelo ex-senador e ex-governador César Borges, legenda que há alguns meses resolveu ingressar na base partidária do governo Jaques Wagner, ante a nomeação de Borges para a Diretoria de Governo do Banco do Brasil. Em âmbito nacional, o PR já apoia os governos petistas há vários anos. O outro deputado deixou o PSC, também por discordar da adesão da legenda à aliança governista na Bahia.
         Deixaram o PR para ingressar no DEM o líder da oposição na Assembléia Legislativa, Elmar Nascimento e o deputado Sandro Régis, muito ligado ao ex-governador Paulo Souto. Do PSC passou ao DEM Targino Machado, que também faz oposição severa ao governo petista. As três filiações de parlamentares ao Democratas não acresceram as oposições como um todo, mas é evidente que fortalecem o DEM, que nas eleições municipais passadas saiu-se bem ao conquistas as prefeituras dos dois municípios que representam os dois maiores colégios eleitorais do estado – Salvador e Feira de Santana.
         Dando amplitude política ao evento das filiações, estiveram presentes o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia, o prefeito de Salvador, ACM Neto, o ex-senador e ex-governador Paulo Souto, o ex-ministro e atual vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima e seu irmão e presidente estadual do PMDB, deputado Lúcio Vieira Lima, o deputado João Carlos Bacelar, que comanda a seção estadual do PTN, políticos do PSDB, além de um auditório lotado.
         Hoje de manhã, às 9:30 horas, é o PMDB que, em sua sede, recebe adesões. Neste caso, haverá algum reforço para o conjunto das oposições. Além do deputado Bruno Reis, que já estava há muito integrado às oposições e que apenas está saindo do PRP para entrar no PMDB, ingressa nesta legenda a deputada estadual Graça Pimenta, que era do PR e tem sua base eleitoral principal em Feira de Santana, onde o marido, ex-deputado Tarcísio Pimenta, foi prefeito até o fim do ano passado. O PMDB, que já tem em Feira uma base expressiva liderada pelo deputado federal Colbert Martins, agora a amplia com a entrada de Graça Pimenta, o que naturalmente acontece com o endosso do marido Tarcísio Pimenta.
         O PSDB não fez filiação de deputados, mas ingressou no partido, em solenidade que reuniu a executiva e autoridades do Judiciário, a ex-desembargadora Luislinda Valois, que deverá ser candidata a deputada federal. “Sou preta, pobre, periférica, ousada e magistrada”, comentou, firmando, certamente, a linha do que será seu marketing eleitoral. O presidente nacional da legenda, senador Aécio Neves, aspirante à presidência da República, além de tucanos baianos prestigiaram a filiação partidária dela.
GOLPE DISSIMULADOHá várias maneiras de se dar um golpe político. Pode-se por as tropas e os tanques nas ruas como também pode-se agir sorrateira e dissimuladamente.
         Não estou falando do Tribunal Superior Eleitoral, que já tinha maioria de votos (quatro, em um tribunal de sete) contra a criação da Rede Sustentabilidade, partido pelo qual Marina Silva pretendia candidatar-se a presidente da República em oposição ao governo petista de Dilma Rousseff. Não, não foi o TSE, embora este devesse perceber e abortar o golpe.
         Eram necessárias 492 assinaturas para criar o partido. Faltaram, segundo as contas do TSE, 50 mil. Mas um lote de mais de 90 mil foi rejeitado por cartórios sem justificativa, sem fundamentação alguma. Mas havia que justificar. Quem garante que essas rejeições inexplicadas estariam corretas? A Rede Sustentabilidade pediu que fossem computadas, ainda que considerando o benefício da dúvida, mas o TSE foi implacável. E talvez nem haja notado, tão concentrado no formalismo, que enquanto a média geral de não validação de assinaturas pelos cartórios pouco passava de 20 por cento, na região do ABC paulista ultrapassou os 70 por cento. É coincidência demais. Rato escondido com rabo de fora.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.