Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sucessão avança


Terça, 22 de outubro de 2013
Por Ivan de Carvalho
Acelera-se o processo da sucessão estadual [na Bahia]. Na área situacionista, o governador Jaques Wagner e – por causa disso, principalmente – uma grande parte da base política de seu governo querem formalizar a composição de sua chapa de candidatos às eleições majoritárias estaduais de 2014 até meados do mês que vem.
Fala-se muito no dia 15, já foi citado também o dia 19. Talvez seja melhor não ficar fixando data exata, porque problemas políticos podem surgir no processo e serem necessárias mais reuniões do que as que já foram realizadas e das que serão até o dia 15 ou 19. Reuniões, aliás, são uma coisa que apaixona expressivos setores governistas, obcecados em discutir as relações.

Ontem foi um dia interessante para a sucessão. O governador Jaques Wagner teve publicada pela Tribuna da Bahia, na data de aniversário da fundação do jornal, uma ampla entrevista, na qual, entre outras coisas, responde a questões sobre a sucessão no âmbito governista.
Embora diga que não há nome algum do qual se possa dizer “esse aqui é pule de 10”, ninguém nos meios políticos e na mídia ignora que o Jaques Wagner quer que o candidato a governador seja o secretário-chefe da Casa Civil, Rui Costa, do PT, naturalmente e seu antigo amigo das lutas sindicais do polo petroquímico de Camaçari e auxiliar importante em seus dois mandatos – no primeiro, como secretário de Relações Institucionais, com a função prioritária de articulador político (o que lhe permitiu chegar facilmente à Câmara federal) e, no segundo, chefe da Casa Civil, com a mesmíssima função prioritária de articulação política e quase podendo ser chamado de vice-rei do governo.
Mas há outros aspirantes do PT. O ex-prefeito de Camaçari, Luiz Caetano, o senador Walter Pinheiro e o secretário do Planejamento e ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli. Nenhum deles dá sinais de alegria ou mesmo conformismo com o rumo que o processo vai tomando, em direção à candidatura de Rui Costa ao governo. Pinheiro está quieto e silencioso depois de declarar que se as coisas não acontecerem do modo devido, vai cuidar de suas tarefas (as do Senado e as relacionadas com sua corrente política petista, supõe-se). O que significaria, presume-se, desinteressar-se da campanha de candidatos às eleições majoritárias estaduais.
Já Caetano usa as poucas armas de que no momento dispõe para lutar por espaço e José Sérgio Gabrielli lança mão de um arsenal mais expressivo. Consolidando manifestações anteriores dispersas, no sábado Gabrielli esquentou a concorrência, com um evento no Hotel Fiesta, quando foram postas as situações (verdadeiras) de que o aspirante ao governo baiano tem a preferência da direção nacional do PT e o apoio de Lula (de Dilma, não). Isto posto junto com manifestações de “movimentos sociais” representados no evento por dirigentes nacionais e estaduais da CUT, bem como setores ligados à Agricultura Familiar, Sem Teto, Juventude (?), Pescadores e Blocos Afro. Uns, presentes, por suas óbvias ligações com o PT e seu comando nacional e outros pelo tratamento atencioso que Gabrielli lhes deu quando presidente da Petrobrás.
No PT está assim, embora absolutamente conhecida a disposição do governador de fazer de Rui Costa o candidato a governador. E fora do PT surgem outros problemas. E graves. Ontem, na entrevista à TB, o governador diz: “Só para ter claro, Lídice é da base, mas no momento que ela sair candidata com uma candidatura nacional outra, não são duas candidaturas da base. Até porque eu não vou fazer nenhum tipo de palanque duplo”.
Pronto. Isso liquida o discurso que a senadora Lídice, candidata do PSB a governadora, vinha fazendo, de que pretendia disputar o governo com o apoio “da base”, o que, evidentemente, excluiria (se veraz a lei física de que duas coisas não podem ocupar o mesmo lugar no espaço) as candidaturas de Rui Costa e dos demais petistas. Ao governador, por intermédio do site Bahia Notícias, Lídice respondeu e não se pode dizer que não foi uma resposta dura: “Escolha de governador não é de vereador não”.
A candidatura ao governo da senadora Lídice da Mata pelo PSB tira um importante contingente de eleitores que, sem isso, votariam no candidato governista.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.