Segunda, 8 de
setembro de 2014
Por Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e
Coordenador Rio da Associação Juízes para a democracia.
Desde Aristóteles a Escola é o lugar do saber e o
saber é sinônimo de evolução de civilização e de construção de uma sociedade
pacífica. No Brasil não tem sido assim. Os últimos dados sobre violência nas
escolas apontam o Brasil em primeiro lugar do ranking em agressões aos
professores. Em sexto lugar em homicídios de jovens de 0 a 19 anos, sendo o
segundo país em números absolutos que mais mata sua infância e juventude.
Os administradores das escolas, desorientados, pedem
a presença de policiais nas escolas, demitindo-se de sua autoridade acadêmica e
disciplinar. Os administradores públicos investem na segurança externa
aumentando o aparato de violência nas comunidades sem investirem nos
educadores. Os professores mal remunerados e desmotivados demonstram sua
insatisfação refletindo na falta de compromisso com a educação e recebendo como
um bumerangue a violência dos desmotivados alunos.
A educação do século XX é rejeitada pelos alunos do
século XXI. Como reverter esse quadro de violência mútua? Os “hermanos”
argentinos nos apontam o caminho. Há na Argentina um forte investimento na
valorização do magistério e uma preparação para patrocinar um ambiente escolar
voltado para a paz. São as Escolas de Paz preparando os mestres e alunos para
uma convivência pacífica através de treinamento de processo de resolução de
conflitos com a mediação e a justiça restaurativa.
Com muito entusiasmo conheci recentemente o trabalho
realizado nas escolas pelos Parceiros Brasil, capitaneado pela Dra Gabriela
Asmar. Já com algumas experiências exitosas na capacitação de professores e
alunos os frutos já começam a ser colhidos em escolas públicas municipais onde
alunos e professores mediadores estão sendo preparados para a resolução de
conflitos que ficam adstritos aos muros escolares, quando antes eram levados à
solução, quase sempre insuficientes dos Conselhos Tutelares, da autoridade policial
e mesmo do judiciário.
Numa sociedade sofrida pelos inúmeros conflitos da
vida moderna é essencial que a paz seja plantada e apreendida a partir das
escolas. É na Escola que se deve aprender a arte da convivência pacífica e duradoura.
O judiciário não está dando conta de resolver tantos e variados conflitos. É
preciso que as novas e modernas modalidades de resolução de conflitos sejam
ensinadas nas escolas. Alunos mediadores detém uma maior compreensão das
dificuldades e identificam melhor os interesses em jogo.
A mediação é a arte de compreender melhor o próximo
e encaminhar as partes em conflito para que sejam protagonistas da solução. A
presença de um terceiro que decide qual a solução nunca agrada a ambos. Daí
afirmarmos que o juiz sempre está desagradando pelo menos metade dos
personagens em conflito, enquanto que através da mediação a possibilidade de
êxito é de cem por cento, eis que a solução dos conflitos nasce através da
identificação dos interesses comuns.
A sociedade em todas as suas dimensões precisam
conhecer e praticar a mediação e as práticas restaurativas. Esse é o caminho da
busca da paz social.