Terça, 4 de novembro de 2014
Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil
Os 45 anos do assassinato de Carlos Marighella foram lembrados em
um ato na noite de hoje (3). O líder da Aliança Libertadora Nacional
(ALN) foi emboscado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, na capital
paulista, em 4 de novembro de 1969. Além dos discursos de parentes e
militantes, foi exibido durante a homenagem no teatro da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o videoclipe da música Marighella do grupo de rap Racionais MCs.
Para
preservar a história do pai, Carlos Marighella Filho aproveitou o
momento para lançar uma campanha pedindo o tombamento da casa onde o
ativista viveu em Salvador, na Bahia. “E com essa campanha a gente
pretende sensibilizar o governo para que desaproprie a casa onde ele
viveu, para que a gente possa construir um local onde a juventude possa
conhecer melhor [a história dele]”, disse.
A música que faz
referência a trajetória do guerrilheiro faz, na opinião de Carlos, uma
conexão com um público mais jovem que talvez não conheça a trajetória do
guerrilheiro. “A periferia jovem da cidade de São Paulo, de todo o
Brasil, por ser jovem está um pouco desconectada. Mas, eu acho que
Marighella é uma inspiração para todos nós e é inclusive inspiração para
essa parcela da população jovem a qual o Brasil deve tanto. E eu me
atreveria a dizer que foi para quem Marighella realmente lutou”,
ressaltou.
Para Carlos, a pouca difusão das informações sobre o
período da ditadura abre espaço para que grupos cheguem a pedir volta do
regime. “Só agora a gente pode criar uma comissão da verdade para
contar essas atrocidades. É natural que essa confusão se estabeleça,
especialmente entre os jovens. Mas isso eu acredito que é uma coisa sem
muito significado, que está sendo ampliada por interesses políticos. Não
é isso que a juventude quer”, disse em referência á manifestação
ocorrida no último sábado (1º) na capital paulista que pediu o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a intervenção militar.
A
fundadora do movimento Mães de Maio, Débora Maria da Silva, disse que
ficou assustada com as reivindicações do protesto do fim de semana. “Eu
acho assustador. Quando a gente vê o ódio implantado, e a gente sabe que
quem paga por esse ódio, geralmente é o pobre, negro, periférico”,
disse. “É o autoritarismo que matou meu filho e mais de 600 pessoas em
um espaço de uma semana. Nós vivemos nesse fogo cruzado de siglas
partidárias. E depois que eles ganham, se beijam e se abraçam, e a
população vulnerável fica cada vez mais à beira da miséria, passando
necessidades”, acrescentou ao lembrar a série de mortes que deu origem
ao movimento em 2006.
A figura de Marighella, entretanto, serve
de inspiração para a luta de Débora. “Acho magnífica a lembrança desse
combatente que vive presente na nossa caminhada e no nosso dia a dia. Eu
me considero uma Marighella. Ele foi meu professor das lutas”,
ressaltou.
A diretora da Comissão de Anistia, Amarilis Tavares,
enfatizou a importância de valorizar as pessoas que combateram o
autoritarismo. Nós não podemos nos esquecer dos nossos heróis. Pessoas
que dedicaram suas vidas à causa e contribuíram para esse processo de
retorno da democracia para o país”.
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Racionais Mc's - Mil faces de um homem leal - Marighella (Clip Oficial)