Quarta, 5 de novembro de
2014
Por Israel Dutra*
Ainda que não devemos subestimar a direita que, inflamada, pede
intervenção militar, em seus atos na Paulista, precisamos saber quem é o
inimigo mais forte e perigoso. Saber contra quem se luta é condição primeira
para vencer qualquer batalha.
Os histéricos da paulista capitaneados por Lobão e Bolsonaro Jr
são barulhentos. Precisam ser combatidos no terreno das ruas. Denunciados nas
redes. Uma visão que disputa a hegemonia do Brasil pós-junho: se vai avançar na
luta por mais direitos ou dar espaço para a direita dura se recompor.
Entretanto, já existe uma direita que atua, por vezes
silenciosa, mas muito mais perigosa. Ela está presente nos territórios mais
pobres do país, armada até os dentes, alicerçada na impunidade e na força
física. A direita que representa um perigo real e imediato é aquela que responde
pela organização das milícias, no Rio, Belém e em vários outros cantos do
Brasil.
A chacina de Belém, nesta madrugada, para além da revolta e dor,
revela mais uma vez a face dessa direita armada, organizada na fronteira entre
o crime e a lei, com base nas forças policiais e repressivas. Com conexões com
a banda podre do poder judiciário e expressões políticas nos legislativos de
todas as esferas.
Eles são os que mataram Amarildo, Claudia, DG, Douglas e os dez
de Belém. Buscam uma base de massas no descontentamento popular e no desespero
das classes médias. Fazem do bordão “bandido bom é bandido morto” seu programa
para unir os “cidadãos de bem”.
A polarização do país se expressa, em primeiro lugar, nessa luta.
O peso das tarefas democráticas e da mobilização é chave para vencermos. Unir a
luta das comunidades com os setores democráticos da sociedade é a chance que
temos de contrapor o discurso dos Datenas que justifica a ação dos grupos de
extermínio e das frações criminosas da polícia. Uma radiografia do narcotráfico
atual mostra também que a relação entre milícias e crime organizado nem sempre
é de contradição, por vezes, sendo complementar. A doutrina de “guerra às
drogas” é o pano de fundo de toda essa investida contínua contra os pobres e a
juventude da periferia, negra e trabalhadora.
Combater sem tréguas os coxinhas e neo integralistas na Paulista
é um dever do ativismo. Porém, a disputa mais difícil e mais importante, hoje
por hoje, é contra o ovo da serpente do fascismo, nos esquadrões da morte, na
chacina de Belém e das novas “Candelárias” que ainda estão por vir. Essa é a
batalha mais importante.
Desmilitarizar a PM. Punir e investigar todos envolvidos nesse tipo de crime.
Desmilitarizar a PM. Punir e investigar todos envolvidos nesse tipo de crime.
Não podemos deixar passar Belém. Um novembro marcado pelo LUTO.
E, a depender de nossos esforços, pela LUTA.
*Israel é sociólogo, membro da Direção Nacional do PSOL e do
Grupo de Trabalho Nacional do Juntos!