Da Tribuna da Imprensa
IGOR MENDES -
Às
vésperas da abertura do prazo para a publicação das sentenças no processo
contra os 23 ativistas políticos da Copa, a Rede Globo, em matéria mentirosa e
mal escrita, prepara o terreno para nossa condenação. O site G1 chegou
ao ponto de dizer, no texto publicado anteontem, intitulado “MP pede para condenar 18 e absolver 5 por
violência em protestos no Rio”, que eu, Igor Mendes, autor dessas
linhas, estou preso (!). Também noticiam, com base nas Alegações Finais
do Ministério Público, que a companheira Elisa Quadros é apontada como
“incentivadora da queima do prédio da Câmara Municipal” –fato “histórico”
esse que nunca aconteceu...
Não
meus amigos, fiquem tranquilos: fui solto no dia 25 de junho último, por
decisão do Superior Tribunal de Justiça, que me concedeu Habeas-Corpus, e
também às companheiras Elisa e Karlayne, dentre outros motivos, porque é
expressamente ilegal encarcerar alguém por ter exercido o direito de se
manifestar politicamente. Isso a Rede Globo, o G1 e seus outros meios não
noticiaram com o mesmo destaque com que reverberam as acusações contra nós, por
motivos óbvios.
A
ausência de provas contra os ativistas, acusados de associação criminosa
armada, num contexto em que não há armas, nem quadrilha, nem qualquer crime –no
Brasil, ainda, é lícito protestar –é flagrante ao ponto de cinco companheiros
terem sua absolvição pedida pelo MP, que diz não poder condena-los apenas com
base no depoimento de uma testemunha.
Mas
em que, afinal, baseia-se todo esse processo farsante senão que, tão
somente, em testemunhos, muitos deles motivados por notórias questões pessoais,
outros obtidos sob coação?
Em
que se baseia esse processo senão na necessidade da máfia que governa
atualmente o nosso Estado, e o País, de intimidar toda a juventude que foi às
ruas em junho de 2013 lutar por seus direitos?
Em
que se baseia esse processo senão no circo armado pela Rede Globo, sócia dos
megaeventos, cúmplice de 21 anos de regime militar que ensanguentaram esse
País? Rede Globo implicada, aliás, no escândalo que levou pra cadeia a cúpula
da FIFA, acusada de sonegar mais de R$180 milhões de reais referentes ao não pagamento
de imposto de renda dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002.
O
processo contra os 23 ativistas nada mais é do que um acerto de contas de todos
aqueles que tremem de medo, e de ódio, quando o povo contesta a ordem vigente.
Que ordem? A ordem do encarceramento da juventude, a ordem dos autos de
resistência, a ordem da repressão ao direito de lutar, a ordem da privatização
da cidade, a ordem das remoções.
O
mesmo Ministério Público que pediu minha prisão preventiva por eu ter participado
de evento cultural no dia 15 de outubro do ano passado na Praça Cinelândia,
nada fez para apurar as graves denúncias de violações aos direitos dos presos
que fiz em Juízo. A propósito, quantos policiais foram condenados por abusos
cometidos nas manifestações, como no caso daquele soldado que comemorou, com
direito a foto no facebook, ter quebrado um cassetete no corpo de um professor?
Onde estão os assassinos de Cláudia Ferreira da Silva, que teve seu corpo
arrastado pelas ruas de Madureira? Em que resultou a investigação da chacina da
Maré, de junho de 2013, quando o povo da favela resolveu aderir à onda de
manifestações que sacudiu o Brasil, sendo reprimido com balas de aço pela
Polícia?
Exatamente
porque esses crimes hediondos diariamente cometidos contra o povo não dão em
nada, os ativistas precisam ser condenados. Para que sirvam de exemplo. Para
que aqueles crimes continuem ocorrendo impunemente. O governo, a Rede Globo e o
MP (que pertence ao Poder Executivo Estadual, vale lembrar) deram seu recado,
veremos o que dirá o Judiciário.
A
minha posição, e creio, de todos os lutadores, está bem resumida na alternativa
apresentada por Darcy Ribeiro, há muitos anos atrás: “só há duas opções
nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca”.