Quinta, 9 de junho de 2011
Publicado em "Auditoria Cidadã da Dívida"
Os jornais divulgam que o COPOM (Comitê de Política Monetária do
Banco Central) mais uma vez atendeu às expectativas do “mercado” e
elevou a taxa de juros Selic pela quarta vez no ano, para 12,25% ao ano,
a maior taxa de juros do mundo, que beneficia diretamente os rentistas
da dívida pública.
O Banco Central e os rentistas alegam, mais uma vez, que seria
necessário subir os juros para desestimular a economia, de modo a
reduzir a demanda por produtos e serviços, reduzindo assim os preços e
garantindo o cumprimento da meta de inflação.
Porém, ao contrário do que alegam o governo e os rentistas, a
inflação atual não é causada por uma suposta demanda exageradamente
aquecida, e portanto, não pode ser atacada por meio de altas taxas de
juros. Analisando-se os dados do IBGE sobre a inflação (IPCA) de janeiro a abril de 2011,
verifica-se que nada menos que 73% desta inflação é causada por
problemas de oferta de alimentos ou por preços administrados pelo
próprio governo. Nestes 73%, se incluem: Alimentação; Taxa de água e
esgoto; Transporte Público; Combustíveis de veículos; Educação; Plano de
Saúde; Energia Elétrica; Telefonia; Serviço bancário.
Interessante
observar que até mesmo os banqueiros - que reivindicam mais alta de
juros para controlar a inflação - aumentaram o preço de seus serviços
(5,46%) muito acima da média geral da inflação do período (3,23%). É a
total contradição a serviço de si próprio, pois além de ganharem com as
altas tarifas, os bancos ganham também com a alta dos juros.
No que se refere à inflação de alimentos, a taxa de juros também é
inútil. A alta dos preços ocorre no contexto da crise alimentar global, e
também devido à ação de especuladores que compram papéis vinculados às
chamadas “commoditties” agrícolas nas Bolsas de Valores, fazendo crescer
os preços. Ao invés de aumentar juros, a melhor saída para isto seria
estimular a agricultura familiar, que apesar de deter a minoria das
terras e dos financiamentos agrícolas, é a responsável pela maior parte
dos alimentos consumidos internamente.
Ou seja: o sistema agrícola brasileiro deveria ser transformado, de
um modelo primário-exportador – que não garante a segurança alimentar –
para um sistema mais justo e sustentável, de propriedades familiares,
por meio de uma ampla reforma agrária.
Evidentemente, esta política precisaria de recursos suficientes para a
infra-estrutura rural, política de estoques públicos, sistemas de
beneficiamento e comercialização e a ligação direta ao consumidor, o que
poderia quebrar o poderio dos atravessadores, especuladores e dos
cartéis do varejo. Mas isto também não é possível com a atual política
de ajuste fiscal, que prioriza os gastos com a dívida.