Domingo, 20 de outubro de 2013
Da Pública Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Da Pública Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Parceria entre Agência Pública e O Eco vai mapear o aumento dos
investimentos do BNDES em projetos de infraestrutura na região. Obras
financiadas pelo banco são acusadas de disfarçar impactos ao meio
ambiente, populações indígenas e trabalhadores.
Em uma das onze aldeias dos índios Arara do Rio Branco no noroeste do
Mato Grosso, Anita Vela Arara, a mais velha da sua comunidade (tem 89
anos), está inconsolável. É que a “tia Nita”, como é conhecida, assistiu
à construção de um gigante de concreto sobre o cemitério tradicional da
aldeia, onde estavam alguns de seus familiares. Entre eles, sua mãe e
sua avó. Segundo Audecir Rodrigues Vela Arara, um dos líderes indígenas e
presidente do Instituto Maiwu, sua tia sabe quem é o culpado: a
hidrelétrica de Dardanelos, obra de cerca de R$ 745 milhões, mais da
metade desse valor financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES).
Uma das primeiras menina-dos-olhos do Plano de Aceleração do
Crescimento (PAC) do Governo Federal, a usina foi construída entre 2007 e
2011 no rio Aripuanã, tirando proveito do potencial hidrelétrico da
área do Salto de Dardanelos, um complexo de cachoeiras com mais de 150
metros de quedas d’água que são o cartão-postal do município de
Aripuanã. Há diversas espécies que só foram encontradas no local, como o
peixe-chinelão, catalogado em 2011. Os estudos de impacto da
hidrelétrica identificaram 316 espécies de aves, 133 de peixes, 50 de
anfíbios e 67 de répteis que vivem na área afetada diretamente por
Dardanelos. Além disso, os Arara do Rio Branco, grupo de cerca de 200
indígenas segundo dados da Funasa, resistem na região, isto depois de
quase terem sido dizimados nas décadas de 1950 e 1960 devido a epidemias
de gripe e varicela, resultado do desastroso contato com seringueiros,
ou por conflitos com grileiros partir da década de 1970.
Audecir Arara ainda se lembra da primeira Audiência Pública de
esclarecimento sobre os estudos de impacto ambiental de Dardanelos, em
agosto de 2005. “A empresa trouxe a proposta de construção da usina e
disse que não teria muito impacto, mas isso era a estratégia para as
pessoas concordarem com a obra. O município aceitou porque seria
beneficiado e os únicos que foram contra eram as comunidades indígenas,
que seriam as mais afetadas”. A Terra Indígena Arara do Rio Branco, com 114 mil hectares, foi
considerada Área de Influência Indireta (AII) por não estar localizada
diretamente na área da hidrelétrica. Na área de Aripuanã, há ainda mais
três Terras Indígenas reconhecidas, a TI Aripuanã, a TI Parque Aripuanã e
a TI Zoró. De acordo com a Coordenação Geral de Identificação e
Delimitação da Funai, há outras áreas reivindicadas no município.