Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Boas e más notícias


Quarta, 2 de outubro de 2013
Por Ivan de Carvalho
As oposições no plano federal colheram, ontem, boas e más notícias. A boa foi a decisão do ex-governador paulista e ex-candidato a presidente da República por duas vezes, José Serra, de permanecer no PSDB, descartando oficialmente a hipótese de migrar para um outro partido pelo qual poderia tentar, pela terceira vez, chegar ao Palácio do Planalto.
         A decisão de Serra, anunciada por intermédio de uma postagem dele no Facebook e formalmente confirmado pelo partido, por nota emitida pelo presidente nacional da legenda, senador Aécio Neves, fortalece as oposições ao governo federal de um modo geral. Um fracionamento muito grande das principais forças de oposição serviria apenas para enfraquecer todas elas, levando cada uma a fazer campanhas eleitorais sem o empuxo suficiente para empolgar o eleitorado.
         Mas a decisão de José Serra, especialmente com a justificativa pública que deu para permanecer no PSDB, fortalece este partido, no qual evita uma crise de viabilidade eleitoral que a saída dele quase certamente provocaria e fortalece a candidatura de Aécio Neves a presidente da República, já consolidada em seu partido. Serra não vai disputar dentro da legenda com Aécio a condição de ser candidato a presidente. Somente na muito improvável hipótese de que a candidatura do ex-governador de Minas Gerais não decole e o próprio Aécio deixe de ter interesse em concorrer à sucessão de Dilma Rousseff no ano que vem, Serra teria o caminho aberto para se aventurar mais uma vez, querendo.
         Serra, na postagem que fez no Facebook, apresenta sua decisão de permanecer no PSDB por estar convencido que seu partido é a “trincheira adequada” para cumprir o objetivo que considera sua prioridade, de “derrotar o PT, cuja prática e projeto já comprometem o presente e ameaçam o futuro do Brasil”. Este discurso ou esta visão de Serra certamente fortalecem as oposições como um todo e a candidatura de Aécio Neves, em particular. Pois o que as oposições vão tentar, assim como pretende fazer Aécio Neves, é exatamente derrotar o PT e seu projeto de poder.
         Assim como praticamente se retira (sem explicitar) da disputa presidencial, Serra não vai também disputar o governo paulista, pois o governador Geraldo Alckmin é candidato à reeleição e deverá enfrentar o desafiante Alexandre Padilha, atual ministro da Saúde e cuja grande obra a ser apresentada ao eleitorado de São Paulo é o programa “Mais Médicos”.
Uma candidatura admirável essa do PT ao governo paulista, visto que, excluída a propaganda que se faz em torno do controverso programa Mais Médicos e de mais algumas coisas ainda no plano da imaginação, o sistema público de saúde no país, que sempre deixou muito mais a desejar do que ofereceu, foi transformado em uma sucata, uma vergonha para quem tenha responsabilidade nessa transformação e um insulto à população, com ênfase na população pobre.
Serra, pelo menos, quando ministro da Saúde, destacou-se por duas iniciativas relevantes, o quase completo impedimento da propaganda de cigarros e outros derivados do fumo e a política dos medicamentos genéricos. Mas Serra deverá ser, salvo surpresas, candidato a deputado federal (terá, se for, uma grande votação, ajudando a legenda a fortalecer sua bancada paulista na Câmara dos Deputados) ou correrá o risco de disputar uma cadeira no Senado, o que talvez não faça muito sentido político, pelo menos para ele.
Quanto às más notícias que referimos nas primeiras linhas, envolvem a criação da Rede Sustentabilidade, partido pelo qual Marina Silva pretende lançar-se candidata a presidente da República. O Tribunal Superior Eleitoral decidirá se concede o registro da legenda a tempo dela participar das eleições do ano que vem. O Ministério Público Eleitoral deu, ontem, parecer contrário, por não haver sido atingido o número exigido por lei (há muitas leis inacreditáveis na área partidária e eleitoral no Brasil). Marina e seu advogado sustentam que 95 mil assinaturas foram rejeitadas sem apresentação de qualquer justificativa pelos cartórios eleitorais. E, contando com elas, o número exigido seria alcançado com folga. Se não há justificativa, “nos autos”, para a rejeição das assinaturas, elas devem ser válidas, sustentam Marina, a Rede e seu advogado.

Parece lógico. Mas há uma pressão enorme para que o TSE rejeite o registro da Rede, que recorrerá ao STF, caso perca no TSE.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.