Quarta, 23 de outubro de 2013
Da Agência Brasil
São Paulo – A Comissão da Verdade de São Paulo pediu a exumação dos
restos mortais de Geraldo Ribeiro, motorista do ex-presidente da
República Juscelino Kubitschek. Geraldo morreu no acidente que também
matou Juscelino.
“A última questão é que fomos a Belo Horizonte e entramos com uma
ação na Justiça pedindo a permissão para fazer a exumação da ossada do
motorista do Juscelino, Geraldo Ribeiro. Estamos esperando o juiz dar a
decisão”, disse o presidente da Comissão da Verdade Municipal, vereador
Gilberto Natalini, em entrevista hoje (22) à Agência Brasil.
A versão oficial do acidente aponta que Juscelino e o motorista
morreram em agosto de 1976 em um acidente de trânsito na Rodovia
Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. O carro colidiu
com uma carreta após ter sido fechado por um ônibus. No entanto, a
versão de morte acidental é contestada pela comissão.
Natalini disse ainda ter conversado, na semana passada, com o
jornalista Wanderley Midei, em Aracaju (SE). Midei investigou a morte do
ex-presidente Juscelino para o jornal O Estado de S. Paulo, em 1976.
“Ele recebeu a notícia de que havia um buraco de bala no crânio do
motorista. Ele disse ter ido então a Rezende e ao Rio de Janeiro, mas
não conseguiu comprovar isso”, disse. “Estamos agora procurando
testemunhas da época, que viram o acidente. Estamos investigando quem
estava lá, tal como os guardas rodoviários”, completou Natalini.
Em setembro, a comissão pediu à
Justiça a exumação do corpo de Geraldo Ribeiro. Em 1996, uma perícia
feita pela Polícia Civil de Minas Gerais, no corpo do motorista, apontou
a existência de um fragmento metálico no crânio. A explicação dada à
época era que se tratava de um prego do caixão, mas a comissão acredita
que possa ser um projétil de arma de fogo, o que indicaria que o
ex-presidente foi vítima de um atentado.
Na manhã desta terça-feira, a Comissão da Verdade ouviu o depoimento
de Carlos Eugênio da Paz, o Clemente, que participou da lutar armada
pela Ação Libertadora Nacional (ALN), na qual também atuou Carlos
Marighella.
Durante o depoimento, Clemente disse que as ações da ALN e de toda a
luta armada no período da ditadura militar precisam ser analisadas à luz
do que o país vivia na época. “Se vocês pensarem com a cabeça de hoje
sobre o que acontecia no meio de uma guerra, vão considerar tudo um
erro, só que aconteceu uma luta armada, guerra é guerra”, disse.
Para Clemente, mais importante do que contabilizar as vítimas da
ditadura, é “responsabilizar a direita pelo golpe e todos os outros
crimes”. “O golpe foi o crime que deu início a todos os outros”,
ressaltou.
O presidente da comissão disse que Clemente será novamente ouvido.
“Ele vai ter que voltar para terminar [o depoimento] em um outro dia”,
disse o vereador. “Foi um relato histórico o que ele [Clemente] fez
aqui. E isso será importante para o nosso relatório final”, declarou
Natalini.
Na sexta-feira (25) será inaugurada uma praça e um memorial em
homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, que foi torturado e morto nas
dependências do Destacamento de Operações de Informações – Centro de
Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em outubro de 1975.