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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Manobra marca início de julgamento dos acusados pelo Massacre de Felisburgo

Quinta, 10 de outubro de 2013
Alex Rodrigues, repórter Agência Brasil
Uma nova estratégia da defesa conseguiu adiar, pela quarta vez, o início do julgamento de dois dos quatro acusados de matar cinco trabalhadores rurais sem terra, em novembro de 2004. O crime, que ficou conhecido como Massacre de Felisburgo, ocorreu no acampamento Terra Prometida, na Fazenda Nova Alegria, em Felisburgo (MG), a 736 quilômetros de Belo Horizonte.

A pedido dos advogados do fazendeiro Adriano Chafik, tido como mandante do crime, e de Washington Agostinho da Silva, acusado de participação nas mortes, o juiz Glauco Soares Fernandes, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, desmembrou o julgamento, adiando para 23 de janeiro de 2014 o júri de Francisco Rodrigues de Oliveira e de Milton de Souza, acusados de homicídio qualificado, tentativa de homicídio e incêndio do acampamento dos sem-terra.

Com a decisão, apenas Chafik e Agostinho estão sendo julgados hoje (10). O conselho de sentença é formado por dois homens e cinco mulheres. O quinto réu no processo, Adilson Rodrigues Lima, já morreu.
Após a leitura do resumo da denúncia feita pelo Ministério Público Estadual, foram ouvidas a testemunha de acusação Wilton Soares, que denunciou que o clima de ameaças na região continua. Em seguida foi ouvida uma testemunha de defesa, José Aílton, que garantiu que a Fazenda Nova Alegria era uma das mais produtivas da região e que, hoje, se encontra “sucateada”.


Com a dispensa de outras testemunhas, Chafik começou a ser ouvido por volta de 12h30. Dono da Fazenda Nova Alegria, ele declarou, logo no início de julgamento, que sempre evitou o conflito fundiário, tendo recorrido à Justiça para garantir a posse da terra. Chafik disse que foram os assentados que deram início ao conflito que resultou nas mortes e que só atirou após ser ameaçado e agredido.

Esta é a quarta tentativa de julgar os réus. Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, da primeira vez, o processo não estava pronto para julgamento, pois faltavam diligências. As outras duas tentativas foram adiadas a pedido dos advogados de defesa – o que levou o juiz a acatar o pedido do Ministério Público e a decretar a prisão dos réus por considerar que o pedido de adiamento era “uma tentativa de postergar o julgamento indefinidamente”.

O juiz Glauco Fernandes determinou que os réus fossem presos após concluir que os acusados estavam ameaçando constantemente as testemunhas do crime.

Chafik, Oliveira e Souza foram presos em seguida. Já Silva, que não havia comparecido à sessão de júri, foi preso posteriormente. Os acusados obtiveram habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e deixaram a penitenciária Nelson Hungria em setembro. Caso sejam condenados, os réus podem pegar até 30 anos de prisão.

Além dos cinco trabalhadores sem terra mortos, outros 20 ficaram feridos. Vinte e sete casas e a escola do acampamento foram incendiadas. Durante seu depoimento, Chafik disse que os incêndios foram provocados pelos próprios assentados.