Quinta, 10 de outubro de 2013
Sandra Starling
Vinha discutindo com um representante da Rede minha filiação, desde
que percebi os intoleráveis movimentos de meu outrora tão amado partido,
o PT, para impedir a criação da nova sigla (certamente por sua cúpula e
governo – não por muitos ainda dedicados militantes). Já havia deixado
claro que não tinha com o programa da Rede e com muitas das ideias da
Marina a mesma afinidade que nutri, desde sua fundação, pelo PT. Quero,
cada vez mais, ser capaz de conviver com todas as diferenças entre os
seres humanos. E ajudar, sempre que possível, a melhorar este planeta.
Conheço de sobra as convicções de Marina e, embora tenha examinado
com lupa e feito incontáveis críticas a pontos diversos dos documentos
da Rede, não pude suportar a opressão sobre ela, isto é, impedir que
quem pensa de maneira diferente e procura práticas mais decentes possa
ter vez e voz na arena política.
Ademais, sonho há muito em desconstituir a polarização PT x PSDB, que
só serve para aviltar a política brasileira. Essa polarização
maniqueísta tem levado a uma única consequência: abrir caminho para o
que há de pior no PMDB e para uma verdadeira pilhagem, exercida,
diuturnamente, nos espaços públicos mais importantes, pelas siglas
fisiológicas que pululam por aí.
JULGAMENTO CARTORIAL
Minha repulsa ao julgamento cartorial – o TSE poderia ter aceitado o
registro sob condição resolutiva, abrindo prazo para a comprovação da
procedência, pelos menos, das 95 mil assinaturas devolvidas pelos
cartórios – deixou-me insone e indignada. Doeu-me ver, no dia seguinte,
“Sua Excelência o fato”, na expressão do saudoso Ulysses Guimarães,
desmentir a defesa corporativista da ministra Cármen Lúcia: muitas
fichas do Solidariedade, registrado na semana anterior, se mostraram
falsificadas, embora aceitas pelos cartórios eleitorais de Brasília.
Como dirigente de um dos ramos do Poder Judiciário, a ministra teria
de ser a primeira a reconhecer, a bem do interesse público, que a
máquina burocrática lá, como em toda parte, nem sempre é operosa como
deveria ser.
Vou acompanhar a junção da Rede com o PSB: assumo minhas diferenças
de concepções e até de ideologia com as duas siglas, mas desejo que
sejam capazes de quebrar o monótono e danoso campeonato de quem mais
manipula a vontade política do povo e dos eleitores.
Não vou mais me filiar a partido algum. Só tenho hoje a oferecer à
coligação, se construírem um programa comum respeitável, minha
experiência de vida, minha garra de trabalhar de boca em boca, de
distribuir santinhos, de opinar – se for chamada –, de escrever nos
espaços que ainda consigo ter. Erguer minha voz onde puder falar.
Defender as bandeiras da Rede-PSB.
Vou, enfim, seguir o conselho de um neto de 14 anos de idade: “Seu
erro, vó, foi sempre querer o perfeito: a gente deve escolher quem
apenas vai fazer menos estrago”. Pelo menos enquanto a humanidade viver
como vive. Apoiar quem deseja fazer mais e melhor é a obrigação de todos
que querem um Brasil com justiça social. Não posso me omitir.
Fonte: Tribuna da Imprensa