Quinta, 17 de outubro de 2013
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A urna eletrônica tem falhas que permitem ataques e
manipulações de dados, disseram nesta terça-feira (15) especialistas em
segurança digital ouvidos pela Comissão de Ciência, Tecnologia,
Inovação, Comunicação e Informática (CCT). Para eles, o voto impresso
poderia aumentar a segurança das eleições.
O voto impresso a partir das eleições de 2014 foi
estabelecido em mudança na lei eleitoral sancionada em 2009. A previsão
está suspensa desde 2011 por decisão liminar – ou seja, provisória – do
Supremo Tribunal Federal (STF), e um projeto em análise no Senado propõe
que a impressão do comprovante pela urna eletrônica seja abolida de
vez.
Especialistas ouvidos a pedido do relator da proposta,
senador João Capiberibe (PSB-AP), apontaram falhas na urna eletrônica e
defenderam o voto impresso como uma medida eficiente para combater
fraudes.
Pedro de Rezende, professor de Matemática e Criptologia
da Universidade de Brasília, explicou que a urna eletrônica foi um
avanço, mas o Brasil parou na primeira geração, enquanto já existe a
terceira, que permite auditoria de todos os votos contabilizados.
Já Amílcar Brunazo Filho, moderador do Fórum do Voto
Seguro na Internet, negou que a introdução do voto impresso vá tornar as
eleições mais demoradas.
- O voto impresso já vem sendo usado na Argentina, no
México e na Venezuela, o Peru está testando, a Bélgica, os Estados
Unidos, eles usam o voto escaneado, não impresso, mas é equivalente. E
todos eles apresentam resultados rapidamente, não tem nada dessa
história que vai demorar, que vai atrasar, que vai dar problema –
afirmou Amílcar Filho.
Diego Aranha, também professor de Ciências da Computação
da UnB, coordenou testes públicos do software de segurança do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). E alertou para vulnerabilidades que ele
considera “infantis” no sistema, as quais permitem até identificar em
quem o eleitor votou.
- Se alguém consegue monitorar a ordem que os eleitores
votam e ele é capaz de recuperar os votos em ordem após a eleição,
apenas examinando informação que não é privilegiada, informação pública,
ele consegue correlacionar exatamente quem votou em quem. Essa fraude
do sigilo do voto obviamente permite, não é?, o retorno de uma versão
digital do que a gente chama de voto de cabresto no Brasil – observou
Diego Aranha.
O deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que foi o autor do
projeto quando era senador, compareceu à audiência e classificou os
temores de violação das urnas como “paranoia”.
- Existe uma certa paranoia nessa questão da urna
eletrônica. Esses mesmos problemas que são apontados, de criptografia,
eles existem no Imposto de Renda eletrônico, que é feito pela internet.
Quer dizer, o que nós temos que fazer é evoluir, sim. Mas evoluir na
segurança, evoluir no tipo de criptografia – afirmou Eduardo Azeredo.
O senador João Capiberibe, no entanto, está convencido de
que há falhas que precisam ser resolvidas e defendeu que os gastos com a
implantação do voto impresso são um investimento em segurança.
– Não tem custo que pague uma fraude eleitoral. Porque
quem frauda eleição é quem tem muito dinheiro para fazer isso. Então
você retira a possibilidade de uma representação mais ampla da sociedade
brasileira. E já é muito restrita.
No mesmo debate, Diego Aranha observou que ainda que há
pontos centrais que podem ser usados para fazer fraudes em larga escala,
afetando várias urnas. Ele disse também que a impressão do voto é uma
ferramenta para fazer auditorias e para evitar manipulação dos dados.
Reportagem de Roberto Fragoso, da Rádio Senado
Fonte: Agência Senado