Domingo, 18 de setembro de 2018
Heloisa Cristaldo - da Agência Brasil
A história de décadas de maus-tratos de Maia e Guida, duas
elefantas da espécie asiática, terá um desfecho diferente a partir de
outubro. Elas serão as primeiras moradoras do Santuário de Elefantes
Brasil, uma instituição inédita no país, localizada na Chapada dos
Guimarães, a 65 quilômetros da capital de Mato Grosso. A fazenda, que
abrigará os animais tem 1,1 mil hectares e foi adquirida por meio de
doações de organizações internacionais especificamente para abrigar
elefantes.
As
duas elefantas foram confiscadas de um circo na Bahia e vivem, há seis
anos, em Paraguaçu, cidade ao sul de Minas Gerais. Com idades avaliadas
de forma aproximada, Maia, 44 anos, e Guida, 42 anos, serão cuidadas por
veterinários e especialistas do primeiro santuário de elefantes da
América Latina. O espaço vai receber animais da espécie resgatados em
situação de risco e oferecerá os cuidados necessários para que possam se
recuperar física e emocionalmente do período de cativeiro.
De
acordo com a presidente do Santuário e uma das idealizadoras do projeto,
Junia Machado, o espaço terá estrutura para receber até 50 elefantes
provenientes de toda a América do Sul. Inicialmente, a estrutura
abrigará até seis elefantes. O custo mensal é estimado em até R$ 20 mil,
nesta primeira fase. Todo os gastos do santuário são mantidos por
doações e organizações não governamentais internacionais.
“Há 5
mil elefantes vivendo em locais de risco, como zoológicos e circos. Por
melhor que seja um zoológico, em geral, ele isola o animal e causa um
sofrimento agudo. Os elefantes são animais extremamente inteligentes,
que vivem em grandes clãs, têm sociedades organizadas. Em alguns deles
que encontramos em situações críticas, é possível perceber, a olho nu, o
abalo emocional, por meio de movimentos repetitivos da cabeça e do
corpo, e comportamento diferente dos elefantes que vivem na natureza. O
santuário é um local criado e estruturado para dar proteção a esses
animais”, explica Junia Machado.
A
primeira etapa do santuário terá um centro de cuidados veterinários e
piquetes para abrigar os elefantes, que serão separados por espécie
(asiáticos e africanos) e sexo (machos e fêmeas).
A iniciativa
aguarda a liberação do licenciamento ambiental da Secretaria de Estado
de Meio Ambiente de Mato Grosso para começar a funcionar. De acordo com o
órgão, o projeto já obteve as autorizações e as licenças prévia e de
instalação. Nas próximas semanas devem ser liberadas a autorização de
uso e manejo e a licença de operação.
A coordenadora de Fauna da
Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Mato Grosso (Sema), Danny
Moraes, disse que haverá controle sanitário na origem do animal e também
na chegada a Mato Grosso. No Santuário, o elefante passará por uma fase
de quarentena, acompanhada por veterinários e especialistas. “Ele fica
cerca de 40 dias em um piquete individual, se não apresentar nenhum
sintoma, vai para um espaço maior”, afirmou.
Danny Moraes
ressalta que para a liberação do licenciamento, a secretaria também
avalia aspectos sanitários dos animais, como a possibilidade de
transmissão de doenças.
“Há uma avaliação nesse aspecto para
garantir a segurança da região. O estado de Mato Grosso é uma zona livre
de febre aftosa, mas a doença atinge outro tipo de animais, como
bovinos, ovinos e caprinos. O elefante não é hospedeiro de febre aftosa,
então não é uma fonte de preocupação. Tuberculose é uma possibilidade
de transmissão, tanto para os animais quanto para o ser humano, mas o
espaço não compreende os fatores de risco e já tem os controles
sanitários de origem. Também é analisada a possibilidade de transmissão
de animais nativos para os elefantes. Tudo é avaliado para não termos
riscos”, disse.
Atividades
O Santuário
não será aberto para visitação pública, mas será mais do que um espaço
de reabilitação dos elefantes. Segundo Junia Machado, a
instituição terá, futuramente, um centro de visitantes na cidade, com
dados sobre aspectos biológicos, físicos e comportamentais dos
elefantes. Além de fornecer informações para pesquisas e estudos,
ocorrerão palestras e acesso à imagens das câmeras, que transmitirão ao
vivo, das áreas internas do santuário. Essas imagens estarão também
disponíveis na internet.
O
formato do santuário é inspirado em um exemplo criado há 20 anos, no
Tennesse, nos Estados Unidos. O cofundador do The Elephant Sanctuary ins
Tennesse, Scott Blais, é também um dos administradores e idealizadores
do santuário brasileiro. O Santuário de Elefantes Brasil é um projeto
conduzido pelo Global Sanctuary for Elephants (GSF) e pela
ElephantVoices, organizações internacionais dirigidas por especialistas
em elefantes.