A organização não governamental (ONG) Anistia Internacional
criticou a operação da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro na Favela
de Antares (em Santa Cruz, zona oeste), que provocou a morte de pelo
menos cinco pessoas, entre elas o cinegrafista Gelson Domingos da Silva,
que estava fazendo a cobertura jornalística da ação. A PM disse que a
missão dos policiais era checar informações de que líderes do tráfico de
drogas, fortemente armados, estavam reunidos na favela.
"Nesse caso, em particular, o que aconteceu foi uma tragédia", disse o
representante da entidade para Assuntos Relacionados ao Brasil, Patrick
Wilcken. "A Anistia critica essas operações militarizadas no Rio, nas
quais a polícia invade uma comunidade. Isso põe em risco a vida de
pessoas da comunidade e, também, de jornalistas."
Wilcken ressaltou que o tipo de operação gera violência desproporcional
sobre as comunidades mais pobres. Em relação à morte do cinegrafista
Gelson Domingos da Silva, da TV Brasil e da TV Bandeirantes, ele disse que esse tipo de cobertura jornalística é "intrinsecamente perigosa".
Silva foi alvejado por um tiro de fuzil enquanto gravava um tiroteio
entre polícia e traficantes. Apesar de estar vestido com um colete à
prova de balas, o equipamento não era resistente a tiros de fuzil. O
representante da Anistia disse desconhecer os detalhes da morte do
cinegrafista, mas ressaltou que cabe às empresas jornalísticas fazer
tudo que puderem para proteger os funcionários.
Em nota, o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro classificou como
"pífio" o tipo de colete à prova de balas fornecido aos jornalistas em
operações de risco. A entidade também cobrou que o Grupo Bandeirantes
auxilie financeiramente a família do cinegrafista.
A TV Bandeirantes divulgou uma nota em resposta ao sindicato na qual
informa que o colete usado por seus repórteres é do modelo "de maior
capacidade de proteção liberado pelas Forças Armadas para utilização por
civis". A emissora também disse que profissionais que atuam em
situações de risco têm contratos de seguro diferenciado.
A operação na Favela de Antares acabou apenas na manhã de hoje com
cinco mortos e nove pessoas presas. Foram apreendidos um fuzil, três
pistolas, cinco rádios, drogas e dez motocicletas. Segundo a PM, entre
os presos estão o gerente do tráfico local, Renato José Soares,
conhecido como BBC, e o braço-direito dele, Leandro Ferreira de Araújo,
conhecido como China.