Quinta, 20 de dezembro de 2012
Vittorio Medioli
O pior dos males que resultam do aparecimento de escândalos
políticos, apesar de se desviarem vultosas quantias de impostos
arrecadados, são os danos morais à nação. Estes são irreparáveis,
estendem-se num tempo e num espaço amplos e indefinidos, banalizam o
crime e o deixam trivial num complô de eminentes figuras que pretendem
justificar a imundície como fórmula necessária à vida da democracia.
Nada disso é verdade. Os países que tiveram melhor êxito
socioeconômico são os menos corruptos e corrompidos do planeta. Benesse e
honestidade andam juntos, ao contrário do que se pretende espargir.
As malandragens alcançam silenciosamente o ânimo das pessoas,
incrustam-se na alma, aviltam o que de melhor tem o ser humano. Quem
soube eliminar a corrupção é quem está no ápice do desenvolvimento.
Vejam-se Dinamarca, Nova Zelândia, Singapura e Finlândia. O Brasil nem
sequer aparece nos primeiros 60 do ranking dos clubes dos honestos.
O mau exemplo dos líderes contamina os mais fracos, os jovens,
fragiliza a estrutura social, esgarça seus órgãos funcionais. O peso da
imoralidade não permite levantar-se voo. O peso dos males compromete a
sociedade e o sistema. Não por acaso, desonestidade e burocracia andam
de mãos dadas. Somos um país entre os mais corruptos e o mais
burocrático do planeta. Isso é claro como a luz do sol, mas
desburocratizar significa dar um golpe à corrupção. E isso, burocracia e
roubo, está de bom tamanho para nossas elites políticas, sociais e
sindicais.
SOLIDARIEDADE
Espantosamente, partidos inteiros, centrais sindicais e até a
ex-gloriosa UNE se manifestam desabridamente em solidariedade aos
corruptos e ameaçam ocupar as praças.
Enfim, a corrupção se ergue como meio de vida, garantidora do poder,
fórmula infalível para o aumento exorbitante de carga tributária, meio
direto de espoliação do trabalho real e honesto.
Burocracia cria legiões de atravessadores, que, não por acaso, têm seu
ídolo numa figura cada vez mais controvertida e afundada num
inexplicável lamaçal. Ele disse num momento de bravata: “Quanto mais
imposto, melhor”. Esqueceu-se de dizer: “para mim e cúmplices”.
Nenhuma política aparentemente social, num contexto de desonestidade,
poderá compensar o estrago que gera na malha econômica e social. O
gigantesco Brasil não entendeu que os métodos de republiqueta de
caudilhos populistas e de escroques são pagos por todos que trabalham
honestamente. O que deveria ser normal, a honestidade, passou a ser
“virtude rara”. Quem a cantou em todas as prosas para chegar ao poder
mostra que apenas dissimulou seus reais propósitos. Isso agrava seus
pecados, pois escancara a falsidade usada em larga escala e que se
reafirma nas intenções de “venezuelização” a que estão submetidas as
estruturas mais sólidas da nação.
Desonestidade, em todas as suas incalculáveis formas, desfila sob o
olhar de um povo que, recém e mal-escolarizado, não consegue ligar uma
causa a outros deletérios efeitos, e faz dele a principal vítima.
O STF, mercê de gestos de incalculável valor moral, aplicou penas aos
intocáveis. Com as condenações penais, parou uma tendência de queda
para uma derrocada sem retorno. Mas será duro manter essa postura
patriótica se os próximos ministros escolhidos forem figuras escolhidas
pela presidente para homologar a delinquência de partidos e assaltantes.
ESPANTO
Ainda gera espanto assistir a quadrilhas de diferente coloração,
formadas por dezenas (ou centenas) de pessoas que já ganham muito bem,
desfrutam de mordomias, de apartamentos funcionais, de diárias, de
viagens de “trabalho” ao exterior, de cartões corporativos, até de jatos
executivos da FAB, auxílios de toda ordem e reembolsos ilimitados –
membros privilegiados da casta dos mais poderosos – dilapidarem o
patrimônio do Estado, furtarem de estatais, de ministérios, de bancos e
de tudo mais que está ao alcance de suas garras.
Os bens públicos, já relativamente escassos numa sociedade marcada
pela extrema pobreza de 40 milhões de brasileiros, são atacados sem
qualquer escrúpulo. Pouco importa se os desvios gerarão desserviços,
numa corrente de ações e de efeitos até se alcançarem as camadas mais
desprotegidas. Não chegam à consciência dos malfeitores as dores e os
males que semeiam?
Faz mal a presidente do país, que ganhou fama por ações que caíram no
agrado popular, juntar-se ao coro em defesa de malfeitos e de pecados
que deveriam ser pelo menos apurados, devido à sua impressionante
verossimilhança.
Também dever-se-ia explicar, em rede nacional, especialmente para os
mais jovens, que o crime não compensa, que as fortunas erguidas sem
trabalho, mesmo aquela de uma inteira nação, perder-se-ão.
Não existe um só país socialmente evoluído que tenha construído sua
grandeza com burocracia e corrupção. Isso deve ser gritado pelos
políticos que se dizem do bem.
Transcrito do jornal O Tempo // Tribuna da Internet