Segunda, 14 de outubro de 2013
Do Jornal de Brasília
Não prestar socorro é crime previsto no Código Penal, artigo 135.
Contudo, por mais que se esforcem, bombeiros e servidores do Serviço
Médico de Urgência (Samu) não estão conseguindo atender a todos os
chamados de urgência da população do Distrito Federal. Isso ocorre por
falta de ambulâncias ou mesmo de pessoal para atendimento.
Os bombeiros trabalham hoje apenas com 20 ambulâncias, 50% do seu total. Isso porque seis estão quebradas, sem condições de uso, e outras 14 em manutenção. Já o Samu, que conta com 31 carros em pleno funcionamento (seis estão parados), sofreu redução nas horas-extras dos trabalhadores, segundo o Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem (Sindate-DF), o que colaborou com a queda nos acolhimentos.
“A Secretaria de Administração Pública (Seap) pediu que diminuíssem as horas-extras. O governo, em vez de fazer pente fino em outras áreas, optou por fazer o corte no Samu”, aponta o vice-presidente do Sindate, Jorge Vianna.
Descaso
Por outro lado, explica o major do Corpo de Bombeiros, Eduardo Luiz Gomes, mesmo faltando ambulâncias, não houve queda de rendimento na corporação. “É claro que a gente tem uma demanda reprimida, mas nada gritante”, diz, sem calcular quantas pessoas deixam de ser atendidas devido ao déficit.
A afirmação, porém, não é confirmada por boa parte da população. “Eu liguei para os Bombeiros e me disseram que não tinha carro. No Samu, desligaram o telefone na minha cara. Isso é uma total falta de respeito com o cidadão”, conta, indignada, a dona de casa Marilange Célia Toledo, 48 anos, (foto abaixo) moradora de Ceilândia, região administrativa com o maior número de chamados de emergência: 2,7 mil registros de atendimento até abril deste ano.
As ligações aconteceram no último dia 3, quando o irmão dela, Wanderley Augusto, 42 anos, passou mal, apresentando sinais de convulsão. “O que mais indigna é que não pedi nenhum favor. O Estado tem obrigação de oferecer esses serviços. Meu irmão poderia ter morrido se uma pessoa que passava de carro aqui na rua não tivesse aceitado levá-lo até o Hospital de Ceilândia. Ele está lá até hoje, internado, em observação”, acrescenta a Marilange.
Sem direito a reclamar
Depois da falta de assistência, ela tentou registrar ocorrência do caso. Porém, os agentes disseram que precisaria dos nomes dos atendentes. “Como? Eles não passam o nome deles”, aponta. Na Ouvidoria do GDF, a mesma situação. “Perguntei para a atendente se Brasília tem governador. Se tem, não parece”.
Repasse de verba para o Samu
O mais estranho no caso do Serviço Médico de Urgência (Samu) é que o Ministério da Saúde destinou verba de custeio, com aumento de 19% para o serviço, somando mais de R$ 884 mil para a rede.
A portaria que define o repasse foi publicada no Diário Oficial da União, em 19 de julho, e valia para os próximos meses. Os recursos estariam reservados à capacitação de profissionais e à manutenção das equipes e equipamentos das unidades móveis.
Redução
“Os servidores do Samu são da Secretaria de Saúde. O contrato deles é de 24 e 40 horas semanais, com plantões extras de seis ou 12 horas. Reduziram isso. E, além de tudo, já havia demanda de trabalhadores na área, porque não é qualquer profissional que pode trabalhar no Samu. Eles precisam de capacitação e isso leva tempo”, explica o vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem (Sindate-DF), Jorge Vianna.
Carros inutilizados
De acordo com o major dos Bombeiros Eduardo Luiz as 20 ambulâncias da corporação rodam cerca de 600 quilômetros diariamente. “Usamos os carros até não suportarem mais”. Enquanto isso, vários carros estão parados no depósito, alguns para conserto e outros devem ir à leilão.
Ponto de Vista
O especialista em gestão pública da Universidade de Brasília (UnB) José Matias-Pereira observa que o Governo do Distrito Federal (GDF) é o único responsável pela falta de ambulâncias nos Bombeiros e servidores no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Trata-se de um caso de ineficiência de administração. A postura deste governo, diante dos fatos, beira a inconsequência”, alerta o estudioso. O especialista argumenta ainda que, “se as coisas chegaram a esse nível de negligência, minha sincera opinião é de que não resta mais nada para a população a não ser rezar para não precisar desses serviços de emergência”. O professor salienta ainda que sempre faltou aos representantes do Palácio do Buriti a capacidade de desenvolver as prioridades do governo. “Todo governo deve ter objetivos para atingir as demandas da população. Aqui no Distrito Federal isso não aconteceu”, completa. Diante do cenário dos serviços de emergência, o estudioso em gestão pública da UnB opina: “a administração de Brasília caminha rumo ao caos”.
Redução no atendimento
O major dos Bombeiros Eduardo Luiz fala que a corporação atende em média uma ocorrência a cada meia hora, ou seja, 48 por dia. “Em Ceilândia e Taguatinga, regiões com maior demanda, esse número chega a 75, ou seja, três por hora”, diz.
Contudo, os veículos inutilizados pela corporação podem ter cooperado para a redução no número de atendimentos pré-hospitalares em comparação com o ano passado. Até abril de 2012, as assistências a casos clínicos chegaram a mais de 6,3 mil. No mesmo período de 2013, porém, a corporação apresentou queda de 1,1 mil registros, com 5,2 mil ocorrências. Quando os chamados dizem respeito a traumas, ou seja, vítimas de acidente e agressão, este ano a corporação atendeu 6,1 mil chamados. De janeiro a abril de 2012 foram 7,4 mil atendimentos.
Samu
A reportagem não teve acesso a dados de atendimento dos últimos dois anos do Samu. Porém, matéria divulgada pela agência de comunicação do GDF mostra que em oito anos de funcionamento, o serviço recebeu mais de 10 milhões de ligações pelo 192. Entre os atendimentos, 60% são casos clínicos: convulsões, problemas cardíacos, crise hipertensiva, desmaios. Os demais são traumas, casos obstétricos e psiquiátricos.
Uma ambulância de unidade básica é composta de dois técnicos de enfermagem Para casos graves como derrame, parada cardíaca ou acidente de trânsito são disponibilizadas as ambulâncias de unidade avançada.
Sem respostas
Questionado, o Samu não respondeu o porquê das recorrentes reclamações da população por falta de atendimento. Quanto ao Corpo de Bombeiros, a Secretaria de Comunicação do GDF informou que está prevista a compra de mais 30 carros ainda este ano, restando apenas três meses até 2014.
Os bombeiros trabalham hoje apenas com 20 ambulâncias, 50% do seu total. Isso porque seis estão quebradas, sem condições de uso, e outras 14 em manutenção. Já o Samu, que conta com 31 carros em pleno funcionamento (seis estão parados), sofreu redução nas horas-extras dos trabalhadores, segundo o Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem (Sindate-DF), o que colaborou com a queda nos acolhimentos.
“A Secretaria de Administração Pública (Seap) pediu que diminuíssem as horas-extras. O governo, em vez de fazer pente fino em outras áreas, optou por fazer o corte no Samu”, aponta o vice-presidente do Sindate, Jorge Vianna.
Descaso
Por outro lado, explica o major do Corpo de Bombeiros, Eduardo Luiz Gomes, mesmo faltando ambulâncias, não houve queda de rendimento na corporação. “É claro que a gente tem uma demanda reprimida, mas nada gritante”, diz, sem calcular quantas pessoas deixam de ser atendidas devido ao déficit.
A afirmação, porém, não é confirmada por boa parte da população. “Eu liguei para os Bombeiros e me disseram que não tinha carro. No Samu, desligaram o telefone na minha cara. Isso é uma total falta de respeito com o cidadão”, conta, indignada, a dona de casa Marilange Célia Toledo, 48 anos, (foto abaixo) moradora de Ceilândia, região administrativa com o maior número de chamados de emergência: 2,7 mil registros de atendimento até abril deste ano.
As ligações aconteceram no último dia 3, quando o irmão dela, Wanderley Augusto, 42 anos, passou mal, apresentando sinais de convulsão. “O que mais indigna é que não pedi nenhum favor. O Estado tem obrigação de oferecer esses serviços. Meu irmão poderia ter morrido se uma pessoa que passava de carro aqui na rua não tivesse aceitado levá-lo até o Hospital de Ceilândia. Ele está lá até hoje, internado, em observação”, acrescenta a Marilange.
Sem direito a reclamar
Depois da falta de assistência, ela tentou registrar ocorrência do caso. Porém, os agentes disseram que precisaria dos nomes dos atendentes. “Como? Eles não passam o nome deles”, aponta. Na Ouvidoria do GDF, a mesma situação. “Perguntei para a atendente se Brasília tem governador. Se tem, não parece”.
Repasse de verba para o Samu
O mais estranho no caso do Serviço Médico de Urgência (Samu) é que o Ministério da Saúde destinou verba de custeio, com aumento de 19% para o serviço, somando mais de R$ 884 mil para a rede.
A portaria que define o repasse foi publicada no Diário Oficial da União, em 19 de julho, e valia para os próximos meses. Os recursos estariam reservados à capacitação de profissionais e à manutenção das equipes e equipamentos das unidades móveis.
Redução
“Os servidores do Samu são da Secretaria de Saúde. O contrato deles é de 24 e 40 horas semanais, com plantões extras de seis ou 12 horas. Reduziram isso. E, além de tudo, já havia demanda de trabalhadores na área, porque não é qualquer profissional que pode trabalhar no Samu. Eles precisam de capacitação e isso leva tempo”, explica o vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem (Sindate-DF), Jorge Vianna.
Carros inutilizados
De acordo com o major dos Bombeiros Eduardo Luiz as 20 ambulâncias da corporação rodam cerca de 600 quilômetros diariamente. “Usamos os carros até não suportarem mais”. Enquanto isso, vários carros estão parados no depósito, alguns para conserto e outros devem ir à leilão.
Ponto de Vista
O especialista em gestão pública da Universidade de Brasília (UnB) José Matias-Pereira observa que o Governo do Distrito Federal (GDF) é o único responsável pela falta de ambulâncias nos Bombeiros e servidores no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Trata-se de um caso de ineficiência de administração. A postura deste governo, diante dos fatos, beira a inconsequência”, alerta o estudioso. O especialista argumenta ainda que, “se as coisas chegaram a esse nível de negligência, minha sincera opinião é de que não resta mais nada para a população a não ser rezar para não precisar desses serviços de emergência”. O professor salienta ainda que sempre faltou aos representantes do Palácio do Buriti a capacidade de desenvolver as prioridades do governo. “Todo governo deve ter objetivos para atingir as demandas da população. Aqui no Distrito Federal isso não aconteceu”, completa. Diante do cenário dos serviços de emergência, o estudioso em gestão pública da UnB opina: “a administração de Brasília caminha rumo ao caos”.
O major dos Bombeiros Eduardo Luiz fala que a corporação atende em média uma ocorrência a cada meia hora, ou seja, 48 por dia. “Em Ceilândia e Taguatinga, regiões com maior demanda, esse número chega a 75, ou seja, três por hora”, diz.
Contudo, os veículos inutilizados pela corporação podem ter cooperado para a redução no número de atendimentos pré-hospitalares em comparação com o ano passado. Até abril de 2012, as assistências a casos clínicos chegaram a mais de 6,3 mil. No mesmo período de 2013, porém, a corporação apresentou queda de 1,1 mil registros, com 5,2 mil ocorrências. Quando os chamados dizem respeito a traumas, ou seja, vítimas de acidente e agressão, este ano a corporação atendeu 6,1 mil chamados. De janeiro a abril de 2012 foram 7,4 mil atendimentos.
Samu
A reportagem não teve acesso a dados de atendimento dos últimos dois anos do Samu. Porém, matéria divulgada pela agência de comunicação do GDF mostra que em oito anos de funcionamento, o serviço recebeu mais de 10 milhões de ligações pelo 192. Entre os atendimentos, 60% são casos clínicos: convulsões, problemas cardíacos, crise hipertensiva, desmaios. Os demais são traumas, casos obstétricos e psiquiátricos.
Uma ambulância de unidade básica é composta de dois técnicos de enfermagem Para casos graves como derrame, parada cardíaca ou acidente de trânsito são disponibilizadas as ambulâncias de unidade avançada.
Sem respostas
Questionado, o Samu não respondeu o porquê das recorrentes reclamações da população por falta de atendimento. Quanto ao Corpo de Bombeiros, a Secretaria de Comunicação do GDF informou que está prevista a compra de mais 30 carros ainda este ano, restando apenas três meses até 2014.
Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br