Domingo, 13 de outubro de 2013
Por Pedro Porfírio
Eike
Batista deu cano em meio mundo e, no entanto, ninguém levanta a voz contra suas
travessuras
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Amigos, irmãos, camaradas, Eike e Cabral fizeram poucas e boas |
Ações
do grupo foram ao mercado em nome de empresas que vendiam promessas. As da petrolífera,
que hoje estão encalhadas a R$ 0,23, chegaram a R$ 28,50. Ao longo da história republicana poucas
pessoas aprontaram tanto, ganharam tanto, como o outrora todo poderoso
"Senhor X". Há centenas de pessoas lesadas por sua manipulação do
mercado, por seus blefes e pela massiva venda de papeis sem lastro real. No entanto, ele continua no gozo da mais ostensiva
impunidade, graças às suas íntimas relações com os figurões da República, de
todos os partidos, com expoentes de todos os poderes e com astros da mídia, aos
quais sempre destinou generosa atenção. Com
certeza, é seu debacle e não os Black Blocks,
que tira o sono do Serginho Cabral. Dizem que seus arquivos são poderosos e
podem deixar meio mundo mal na fita. Esse seria o segredo do tratamento
especial que vem recebendo diante do desmoronamento do seu império como um castelo
de cartas marcadas.
Não precisa ser "especialista" pra sacar que
essa queda livre do artista Eike Batista é obra de proveta. Ninguém fica exibindo
a fortuna a troco de nada. Tudo fazia parte do show. O seu "X" da
questão foi um bem urdido jogo de cena que pegou. Isso é o que o vulgo conhece
como blefe. Que deixou milhares de investidores com a cara de bunda, igual à de
quem cai no "conto do paco".
Em qualquer país sério o Eike já teria tido o mesmo
destino de Mikhail Khodorkovsky, ex-magnata do petróleo russo, que foi
trancafiado por Vladimir Putin em 2003, pegou 14 anos de cadeia (reduzidos a
11) e viu falir a sua petroleira Yukos,
avaliada no auge em US$ 40 bilhões (R$ 112 bilhões), mais do que todas as
empresas do nosso "bom burguês" juntas.
Eike continua aprontando e vendendo o que pode e o que
não pode a preço de ocasião. O império
de R$ 98 bilhões da noite para o dia foi reduzido a R$ 2 bilhões, isso com
muita boa vontade. As ações da OGX, seu carro-chefe, caíram de R$ 28,50 para R$
0,23, deixando no aperreio todo mundo que comprou seus papéis - papéis sem
lastro, expediente que os bancos também praticam, mas que se garantem com os
depósitos dos clientes.
O dinheiro dos acionistas do Eike evaporou-se na
solidão de uma farsa, enredada em sua própria teia. Nenhuma outra empresa dos
respectivos ramos sofreu qualquer baque expressivo. Ou estão mais abastadas ou
permanecem no mesmo.
Não há notícia de um prejuízo de Eike numa operação conjuntural.
Tudo começou a degringolar em 26 de junho do ano passado, quando, após o
fechamento da BOVESPA daquela terça-feira, um comunicado enviado pela OGX à
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informou que a vazão do poço de Tubarão
Azul, na Bacia de Campos, em produção desde o início daquele ano, seria menor
do que fora prometido.
Eike havia pregado uma peça no mercado, comprometendo
a própria credibilidade da Bolsa de Valores de São Paulo, que deu mole diante
dos seus ardis perceptíveis a olho nu.
No "X" da debacle tem muita gente de rabo
preso, envolvida até o pescoço. É pública e notória sua intimidade com alguns
políticos, como o governador Serginho Cabral, aos quais servia mais do que cafezinho
e água gelada, numa parceria sem segredos.
Talvez seja por isso que até o momento nem se fale no
devido corretivo, embora para descobrir suas traquinagens não careça nem mesmo
de escutas telefônicas e outros esforços de reportagem.
Eike Batista pode se orgulhar da mais absoluta
transparência nas tramas que o catapultaram à oitava maior fortuna do mundo,
primeira do Brasil com muitos corpos de vantagem. Tais peripécias, aliás,
sempre foram cantadas em prosa e verso pela fina flor da mídia daqui e d'além
mar.
Há de se constatar que ainda estamos longe do epílogo
e ainda corremos o risco dos cofres do BNDES e adjacentes serem reabertos para
socorrer Eike, sob o pretexto de livrar a cara dos acionistas minoritários, com
a mesma prestimosidade com que acodem nosso intocável sistema bancário.
Como é dos hábitos, os empresários nunca ficam a ver
navios, embora Eike já tenha mandado para o desmanche o seu Pink Fleet, super-iate de R$ 30
milhões, cuja estréia, em 2007 foi o grande evento do high
society nacional, capitaneado pelo
governador Serginho Cabral.
O dele já deve estar a salvo em lugar seguro e sob
proteção dos deuses. O dos que caíram em suas arapucas é que vai sumindo no
vendaval das ilusões vividas. Resta saber se ainda há leis, promotores e juízes
aqui para que danos traumáticos não fiquem por isso mesmo.