Terça, 1 de outubro de 2013
Akemi Nitahara, repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A Delta Construções pode ter desviado R$ 300
milhões para 19 empresas de fachada entre 2007 e 2012, todas ligadas ao
ramo da construção civil. O esquema foi descoberto em investigação da
Polícia Federal (PF) iniciada no fim do ano passado, quando a Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira enviou documentos com
o nome das empresas envolvidas.
Hoje (1ª), a PF deflagrou a Operação Saqueador,
que aprofundou investigações sobre desvio de recursos públicos, com o
apoio do Ministério Público Federal. Cerca de 100 policiais cumprem 20
mandados de busca e apreensão desde o começo da manhã, na sede e filiais
da empresa Delta Construções nos estados do Rio de Janeiro, de São
Paulo e Goiás, além de endereços comerciais e residenciais das 19
empresas suspeitas.
O coordenador da operação, delegado Tacio Muzzi, explica que a Delta
fazia a transferência para a conta dessas empresas e grande parte do
dinheiro era sacado em espécie.
“Com relação a essas empresas de fachada, o que já se materializou
na investigação: a sede social não é compatível com o montante de
recurso movimentado em suas contas-correntes; os sócios também não
ostentam capacidade econômico-financeira relativa ao volume de recurso
transitado nessas contas; e a maior parte nunca teve funcionário
registrado. Então, seriam esses os indícios que denotam que essas
empresas são empresas de papel”.
De acordo com ele, há um grupo de dez a 20 laranjas – pessoas que
servem de intermediárias nas transações para ocultar a identidade de
quem contrata – comum às empresas e que provavelmente sabiam do esquema.
Foram apreendidos, até o momento, R$ 350 mil em espécie no Rio e em São
Pulo, em escritórios e residências, além de veículos, computadores e
documentos. O delegado diz que a perícia contábil-financeira nessas
empresas já começou a ser feita.
“O nosso foco inicial desse inquérito é a empresa Delta Construções.
Está sendo feito um exame pericial para verificar a origem desse
recurso que foi transferido. Essa diligência está em curso, há fortes
indícios [de desvio de recursos públicos], porque grande parte dos
negócios dessa construtora envolvia obras públicas. Há recursos
federais, estaduais e municipais, o exame pericial é justamente para
verificar a origem desses recursos”, explicou o delegado.
Essa perícia deve ser concluída em 30 dias. De acordo com Muzzi,
ainda não há indício de envolvimento de agentes públicos nem de
políticos. O superintendente regional da PF no Rio de Janeiro, Roberto
Cordeiro, explica que, se houver indício, os contratos públicos da Delta
podem vir a ser investigados. “As investigações continuam. Se nós
chegarmos à conclusão de que há indício desse tipo de situação, elas
serão investigadas”.
Se as suspeitas forem comprovadas, os responsáveis podem responder
pelos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção
ativa e passiva e peculato. A PF ainda não divulgou os dados
consolidados das apreensões feitas hoje nos três estados.