Domingo, 2 de novembro de 2014
Giselle Garcia - Correspondente da Agência Brasil/EBC
A síntese do 5º Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC, da sigla em inglês), divulgado hoje (2), em Copenhague, na
Dinamarca, mostra que se não houver ação imediata das nações para frear o
aquecimento global, em pouco tempo, não haverá muito o que fazer. “Se
as taxas de emissão de gases de efeito estufa continuarem aumentando, os
meios de adaptação não serão suficientes”, aponta o documento.
“Temos
uma janela de oportunidade, mas ela é muito curta. O relatório mostra
isso. As mudanças climáticas não deixarão nenhuma parte do globo
intacta”, enfatizou o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, durante a
apresentação da síntese. Ele ressaltou que ainda há meios para frear as
mudanças climáticas e construir um futuro mais próspero e sustentável,
mas que a comunidade internacional precisa levar a questão a sério.
O
relatório, elaborado com a participação de mais de 800 cientistas de 80
países, mostra que a emissão de gases de efeito estufa,
responsável pelo aquecimento global, tem aumentado desde a era
pré-industrial, como consequência do crescimento econômico e da
população. De 2000 a 2010, indica o documento, as emissões foram as mais
altas da história. “A acumulação de dióxido de carbono, metano e óxido
nitroso na atmosfera alcançaram níveis sem precedentes nos últimos 800
anos”.
Entre
2000 e 2010, a produção de energia por meio da queima de combustíveis
fósseis foi responsável por 47% da emissão globais de gases de efeito
estufa. A indústria respondeu por 30%, o transporte por 11% e as
construções por 3%.
Pachauri enfatizou, ao longo da apresentação,
que emissões continuadas tem levado a um aquecimento global
contínuo, ao derretimento das geleiras e ao consequente aumento do nível
do mar. Nas últimas três décadas foram registrados sucessivos
aquecimentos na superfície da Terra, sem precedentes desde 1850. O
período entre 1983 e 2012 foi o mais quente dos últimos 800 anos no
Hemisfério Norte, de acordo com a síntese. O aquecimento médio global
combinado da Terra e dos oceanos no período de 1880 a 2012 foi 0,85 grau
Celsius (°C).
O derretimento das geleiras, em especial na
Groelândia e na Antártida, geraram o aumento do nível do mar em 19
centímetros de 1991 a 2010. O número é maior do que os registrados nos
últimos dois milênios. O relatório alerta, também, para a acidificação
dos oceanos em 26% por causa da apreensão de gás carbônico da atmosfera,
o que pode ter impacto grave sobre os ecossistemas marítimos.
Ao
fazer projeções para o futuro, os cientistas preveem impactos severos e
irreversíveis para a humanidade e para os ecossistemas. “Se não
frearmos as mudanças climáticas, elas ampliarão os riscos já existentes e
criarão novos riscos. Meios de vida serão interrompidos por
tempestades, por inundações decorrentes do aumento do nível do mar e por
períodos de seca e extremo calor. Eventos climáticos extremos podem
levar a desagregação das redes de infraestrutura e serviços. Há risco de
insegurança alimentar, de falta de água, de perda de produção agrícola e
de meios de renda, particularmente em populações mais pobres. Há também
risco de perda da biodiversidade dos ecossistemas”.
De acordo
com a síntese, mesmo se houver um esforço das nações para limitar o
aquecimento da Terra a 2°C, ainda assim, os efeitos continuarão a ser
sentidos por um longo tempo. “Ondas de calor vão ocorrer com mais
frequência e durar mais, e precipitações extremas se tornarão mais
intensas e frequentes, em mais regiões. Os oceanos vão continuar a se
aquecer e acidificar e o nível do mar continuará a subir”.
O
relatório enfatiza que, para frear as mudanças climáticas e gerenciar os
seus riscos, é preciso que as nações promovam ações combinadas de
mitigação e adaptação. “Reduções substanciais nas emissões de gases de
efeito estufa nas próximas décadas podem diminuir os riscos das mudanças
climáticas e melhorar a possibilidade de adaptação efetiva às condições
existentes”. Os cientistas reconhecem, entretanto, que essas reduções
demandarão mudanças tecnológicas, econômicas, sociais e institucionais
consideráveis.
Para o secretário-geral da Organização das Nações
Unidas, Ban Ki-moon, que participou da apresentação do relatório, é
preciso agir imediatamente. “O tempo não está a nosso favor. Vamos
trabalhar juntos para construir um mundo mais sustentável. Vamos
preservar o nosso planeta Terra e promover desenvolvimento de maneira
sustentável”, disse.