A informação,
recentemente divulgada, de que o Real teve sua cotação descaradamente
manipulada, por bancos que acabam de ser multados em 5,6 bilhões de dólares por
fraude cambial nos Estados Unidos, corrobora aquilo que sempre se afirmou nos
meios mais nacionalistas, e que é ridicularizado e tratado como uma fantasia
esquerdista pelo público conservador e de extrema direita: A economia
brasileira é constantemente pressionada e manipulada, institucionalmente, por
parte do chamado sistema financeiro internacional. Dele fazem parte jornais,
revistas e outros meios de comunicação "especializados", sediados em
Londres e em Nova Iorque.
Veículos
"normais", muitos deles ligados a instituições financeiras, com
edições em português e já instalados no Brasil, como o El Pais (que conta entre
seus acionistas, com o Santander e o HSBC. E os "analistas" de
sempre, as agências de "classificação", os escritórios de
"auditoria", bancos estrangeiros e mega especuladores de toda ordem.
Temos nossas vidas diuturnamente controladas e diretamente influenciadas por um
esquema "azeitado", integrado e estreitamente coordenado em que
espertos fazem verdadeiras fortunas, da noite para o dia, manipulando fatores
de variação, muitas vezes "cruzados", da taxa SELIC, da cotação da moeda,
do valor das principais commodities brasileiras e das ações de empresas
brasileiras no Bovespa e em bolsas do exterior. Muitos podem alegar que não há
nada a fazer, já que o que acabamos de descrever não passa de um bem acabado
retrato da sociedade capitalista atual, que a cada dia gera novos escândalos,
como foi o caso do relacionado ao próprio HSBC, estranhamente
"desaparecido" dos meios de comunicação nas últimas semanas, ou da
manipulação da taxa LIBOR, que envolveu também bancos agora denunciados no
esquema de manipulação cambial.
Fonte: maurosantayana.com
Fonte: maurosantayana.com
Mas o mundo já não é
bem assim. Há países como a China, em que as autoridades, e a população de modo
geral, dormem e acordam literalmente se lixando para o que dizem o Financial
Times, a The Economist, o Wall Street Journal, o Miami Herald, e outros que
tais.
Países em que o
estado soberanamente controla a cotação de sua moeda, para que outros não o
façam, e que optaram por não atrelar, umbilicalmente, suas economias ao sistema
financeiro "ocidental", com tal sucesso, que se transformaram, para
outras nações, em uma alternativa ao próprio sistema financeiro internacional
como se viu pelos acordos assinados na recente visita do primeiro-ministro
chinês ao Brasil, há poucos dias.
O exemplo chinês
mostra, de forma cabal, que a Europa e os EUA devem ser vistos, principalmente,
como mercados, e não, como ocorre no Brasil, como matrizes e oráculos da
estratégia econômica nacional, já que eles defendem seus próprios interesses, e
há em jogo também os interesses particulares dos especuladores, que dominam e
controlam as organizações financeiras privadas e os meios de comunicação".
Precisamos de menos, e não de mais, dependência do exterior, e há caminhos para
isso, entre eles, o do fundo de reservas e o do Banco dos BRICS. Assim como
precisamos de mais pensamento estratégico e de menos, e não de mais, ortodoxia
econômica, e de mais, e não de menos, empregos, produção e renda. É importante
– mas não a custo de recessão – estender a outros fundamentos da economia a
diminuição da dívida líquida pública e a recuperação das reservas
internacionais alcançadas nos últimos anos, reservas que se mantêm acima de 370
bilhões de dólares, e fazem, hoje, do Brasil, com todos nossos
"problemas", o terceiro maior credor do tesouro norte-americano. O
Brasil é um dos maiores mercados do mundo e a sétima maior economia do planeta.
A China, que só
cresceu depois que fechou, durante certo tempo, sua economia, para
"liberalizá-la" depois, aos poucos, seletiva e estrategicamente - o
que continua fazendo até agora - dificilmente teria chegado até onde chegou, se
tivesse feito o contrário, abrindo de qualquer maneira suas fronteiras às
empresas, importações e especuladores estrangeiros, e levado ao pé da letra,
como muitas vezes já se fez aqui, as considerações dos editoriais de jornais e
revistas ingleses e norte-americanos, dos "analistas" da FOX e da CNN
ou os ditames do FMI.
A manipulação da
moeda brasileira por bancos como Barclays, o Citibank, o JP Morgan, o Royal
Bank of Scotland, o UBS e o Bank of America, e os outros esquemas parecidos
que, com certeza continuam a ocorrer neste momento, se inserem, como outros
fatos recentes – incluída a campanha contra a Petrobras, aqui e no exterior –
em um contexto mais amplo.
O Brasil precisa
escolher entre autonomia e dependência, soberania ou submissão.
Como o viajante,
diante da esfinge, a grande pergunta que temos que responder ao Século 21 é que
país queremos ser e que futuro queremos ter, como Nação.