Domingo, 31 de maio de 2015
Da Tribuna da Internet
Carlos Chagas
A grande novidade da semana que passou foi o comparecimento,
sexta-feira, da presidente Dilma ao congresso do PC do B, em São Paulo.
Dias atrás ela fugiu das comemorações pela participação do Brasil na II
Guerra Mundial, assim como negou-se a estar presente à reunião do PT de
São Paulo, apesar de prometer que irá ao congresso nacional dos
companheiros, semana que vem em Salvador. Imagina-se que Madame tenha
perdido o receio de vaias e panelaços ou, pelo menos, se encontre
disposta a enfrentá-los.
Quinhentos comunistas aplaudiram Dilma durante mais de sessenta
minutos em que ela discursou desmentindo os principais dogmas do
partido. Porque começou afirmando que seu governo perdeu a capacidade de
utilizar recursos para proteger nossa economia. Marx, Lenin, Stalin e
tantos outros denunciariam esse reconhecimento como a falência de sua
ideologia, mas mais se espantariam com a defesa feita pela presidente da
supressão de direitos trabalhistas, do seguro desemprego ao abono
salarial e às pensões das viúvas.
Abandonariam o recinto, se lá estivessem, ao ouvir a apologia do ajuste fiscal. Como já não se fazem comunistas como antigamente, a plateia permaneceu e até bateu palmas. Quer dizer, saudou o neoliberalismo, coisa que não é surpresa, pois a bancada do PC do B tem votado em favor das medidas provisórias do arrocho.
IMPOTÊNCIA
Valeria repetir uma das últimas intervenções de Luis Carlos Prestes,
antes de morrer, quando disse que “os comunistas não tinham partido e o
partido não tinha comunistas”. Assim, Dilma sentiu-se à vontade para
negar a espinha dorsal da doutrina de seus aliados, que por sinal também
negam. No caso, a presença do Estado como propulsor do desenvolvimento e
da justiça social. A presidente confessou a impotência das instituições
sob seu comando para enfrentar crises.
Na mesma hora em que se dirigia aos agora acomodados ex-comunistas,
as centrais sindicais promoviam nas principais capitais do país
manifestações de repúdio ao ajuste fiscal, à supressão de direitos, à
terceirização e outras iniciativas do governo dos trabalhadores. Como em
tempos idos que pareciam ter desaparecido, enfrentaram a polícia e
demonstraram disposição de luta. Só que sem os comunistas.