Siro
Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Conselheiro do
Conselho Estadual da Criança e do Adolescente.
A criança
nunca foi protagonista em nenhum momento histórico de nossa pátria. Até 1990
sequer era sujeito de direitos ou de qualquer tipo de cuidados através de
políticas públicas que lhe garantisse direitos. O advento do Estatuto da
criança e do adolescente inovou e inseriu a cidadania esse segmento de
excluídos. Contudo a negação de direitos ainda é uma prática política muito
comum. Basta ver a ausência de previsão orçamentária em todos os espaços de
administração, legislação e judiciária.
Milhares de
crianças permanecem invisíveis, escondidas nas ainda desconhecidas entidades de
acolhimento, que apesar dos esforços do CNJ, permanecem na clandestinidade.
Qualquer tentativa de aproximação ou descoberta desses seres em desenvolvimento
é obstruída pelas autoridades que deveriam ter a incumbência de descortina-las,
trazê-las à vida e ao conhecimento da comunidade. Tem-se 33,5 mil pretendentes
à adoção contra apenas 5,7 mil crianças disponíveis no Cadastro Nacional de
Adoção porque o cadastro não é alimentado por quem deveria fazê-lo.
Alguns
juízes ainda proíbem a visitação aos acolhimentos como forma de “proteger” as
crianças abandonadas para que permaneçam nesse estado de negligencia. Muitos
proíbem que essas crianças sejam fotografadas como ocorrem com milhares de
crianças que são mostradas nas redes sociais por seus próprios pais sob falso
pretexto de preservação da imagem e para que permaneçam invisíveis.
É preciso
aumentar a consciência pública sobre as condições nas quais crianças
abandonadas ou em situação de risco vivem em nosso país. Há 150 milhões de
crianças no planeta nessas condições e a principal causa de seu silêncio é o
fato de que seus principais defensores, ou seja, seus pais, não estão no local
para apoiá-los através de suas jovens vidas.
Estas
crianças são na melhor das hipóteses sendo cuidada pela dedicação de
particulares ou de entidades governamentais. No entanto, alguns não são
tão afortunados. Eles são, na verdade, desconhecidos para as comunidades,
governos, pretendentes à adoção, sociedade e meios de comunicação.
Faz-se
necessário dar visibilidade as condições de vida dessas crianças por meio das
fotografias, biografias e mostra de seus perfis para que sejam reconhecidas
como cidadãos e libertados do cativeiro dos acolhimentos públicos e privados,
enfatizar as diferenças e semelhanças entre as crianças abandonadas das
diferentes regiões geográficas, classes econômicas e culturas. Expor o
sofrimento e infelicidade que esses jovens enfrentam, e, ainda evitar
estereotipar as condições de vida das crianças por raça, religião, sexo, ou
qualquer outro fator.
Visando
aumentar a consciência pública sobre as condições em que órfãos e crianças em
risco vivem quando em estado de abandono, além de contribuir para o
desenvolvimento dessas crianças dando-lhes visibilidade para ajudá-los a
tornar-se uma parte saudável, feliz e contribuinte da sociedade.
Fonte: Blog do Siro Darlan