Do ESQUERDA.NET
Num artigo publicado
este domingo no Le Monde, o primeiro-ministro grego afirma que a decisão dos
líderes europeus sobre o acordo com a Grécia vai ditar se vence a estratégia da
integração europeia ou da divisão da UE.
31 de Maio, 2015 -
18:34h
Foto Die Linke/Flickr
O cenário de divisão da zona euro e da própria União
Europeia é apontado por Alexis Tsipras como uma possibilidade caso os líderes
europeus rejeitem o acordo negociado nos últimos meses. O primeiro-ministro
grego explica nesteartigo no Le Monde como decorreram as negociações com os credores e aponta
o dedo aos que sempre pretenderam o seu fracasso.
“O primeiro passo nesta direção será a formação de uma
zona euro a duas velocidades, em que o núcleo central imporia regras duras de
austeridade e ajustamento. Este núcleo central imporia assim um superministro
das finanças para a zona euro, que teria um poder imenso com o direito a recusar
os orçamentos nacionais dos Estados soberanos que não estivessem conformes às
doutrinas do neoliberalismo extremo”, prevê o primeiro-ministro grego, chamando
a atenção para as punições que sofreriam os países desobedientes: “aplicação
obrigatória da austeridade, e ainda por cima de restrições aos movimentos de
capitais, sanções disciplinares, multas e até a criação de uma moeda paralela
ao euro”.
“É dessa forma que o novo poder europeu procura
construir-se. A Grécia é a sua primeira vítima. Já foi apresentada como o mau
exemplo que os outros Estados e povos europeus desobedientes não devem seguir”,
prossegue Alexis Tsipras.
Tsipras ainda acredita que a estratégia vencedora possa
ser a “de uma Europa da solidariedade, da igualdade e da fraternidade”. Porque
se assim não fosse, a democracia estaria em risco e “seríamos assim forçados a
aceitar que os primeiros-ministros e os governos seriam impostos pela
instituições europeias e internacionais e os cidadãos seriam privados do seu
direito de voto até ao fim do programa de austeridade”.
O primeiro-ministro grego aponta o dedo à “obsessão de
alguns representantes institucionais que insistem em soluções nada razoáveis,
mostrando-se indiferentes face ao resultado democrático das recentes eleições
legislativas na Grécia, bem como das posições das instituições europeias e
internacionais que se dizem prontas a mostrarem flexibilidade para respeitar o
veredito das urnas”. São estes elementos, diz Tsipras, que promovem fugas de
informação para os jornais a dizer que a Grécia é intransigente, não tem
propostas, e está muito longe de chegar a um acordo.
Neste artigo, Alexis Tsipras descreve algumas das
cedências que os negociadores gregos fizeram ao longo das negociações, para
mostrar que sempre houve boa vontade de Atenas para alcançar um compromisso. É
o caso das privatizações, da reforma do sistema fiscal e da justiça. Mas
confirma as linhas vermelhas no que toca às pensões e às leis laborais.
Tsipras sublinha ainda que um acordo poderá “marcar o fim
da crise econômica europeia que rebentou há sete anos, pondo fim ao ciclo de
incerteza para a zona euro”. E termina com uma recomendação: "Se alguns
pensam ou querem acreditar que a decisão que esperamos só afetará a Grécia,
enganam-se. A estes, remeto-os para a obra-prima de Ernest Hemingway, Por quem os sinos dobram".