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(Millôr Fernandes)

domingo, 31 de maio de 2015

Grécia: Tsipras espera que não vença a "estratégia de divisão da UE"

Domingo, 31 de maio de 2015

Do ESQUERDA.NET
Num artigo publicado este domingo no Le Monde, o primeiro-ministro grego afirma que a decisão dos líderes europeus sobre o acordo com a Grécia vai ditar se vence a estratégia da integração europeia ou da divisão da UE.
31 de Maio, 2015 - 18:34h
Foto Die Linke/Flickr

O cenário de divisão da zona euro e da própria União Europeia é apontado por Alexis Tsipras como uma possibilidade caso os líderes europeus rejeitem o acordo negociado nos últimos meses. O primeiro-ministro grego explica nesteartigo no Le Monde como decorreram as negociações com os credores e aponta o dedo aos que sempre pretenderam o seu fracasso.



“O primeiro passo nesta direção será a formação de uma zona euro a duas velocidades, em que o núcleo central imporia regras duras de austeridade e ajustamento. Este núcleo central imporia assim um superministro das finanças para a zona euro, que teria um poder imenso com o direito a recusar os orçamentos nacionais dos Estados soberanos que não estivessem conformes às doutrinas do neoliberalismo extremo”, prevê o primeiro-ministro grego, chamando a atenção para as punições que sofreriam os países desobedientes: “aplicação obrigatória da austeridade, e ainda por cima de restrições aos movimentos de capitais, sanções disciplinares, multas e até a criação de uma moeda paralela ao euro”.
“É dessa forma que o novo poder europeu procura construir-se. A Grécia é a sua primeira vítima. Já foi apresentada como o mau exemplo que os outros Estados e povos europeus desobedientes não devem seguir”, prossegue Alexis Tsipras.
Tsipras ainda acredita que a estratégia vencedora possa ser a “de uma Europa da solidariedade, da igualdade e da fraternidade”. Porque se assim não fosse, a democracia estaria em risco e “seríamos assim forçados a aceitar que os primeiros-ministros e os governos seriam impostos pela instituições europeias e internacionais e os cidadãos seriam privados do seu direito de voto até ao fim do programa de austeridade”.
O primeiro-ministro grego aponta o dedo à “obsessão de alguns representantes institucionais que insistem em soluções nada razoáveis, mostrando-se indiferentes face ao resultado democrático das recentes eleições legislativas na Grécia, bem como das posições das instituições europeias e internacionais que se dizem prontas a mostrarem flexibilidade para respeitar o veredito das urnas”. São estes elementos, diz Tsipras, que promovem fugas de informação para os jornais a dizer que a Grécia é intransigente, não tem propostas, e está muito longe de chegar a um acordo.
Neste artigo, Alexis Tsipras descreve algumas das cedências que os negociadores gregos fizeram ao longo das negociações, para mostrar que sempre houve boa vontade de Atenas para alcançar um compromisso. É o caso das privatizações, da reforma do sistema fiscal e da justiça. Mas confirma as linhas vermelhas no que toca às pensões e às leis laborais.
Tsipras sublinha ainda que um acordo poderá “marcar o fim da crise econômica europeia que rebentou há sete anos, pondo fim ao ciclo de incerteza para a zona euro”. E termina com uma recomendação: "Se alguns pensam ou querem acreditar que a decisão que esperamos só afetará a Grécia, enganam-se. A estes, remeto-os para a obra-prima de Ernest Hemingway, Por quem os sinos dobram".