Da
Tribuna da Internet
Ação contra a Samarco só vai acabar no próximo século
Por Jorge Béja
O anúncio feito ontem por Izabella Teixeira (ministra do
Meio Ambiente) e Luis Inácio Adams (Advogado-Geral da União), informando que na
próxima segunda-feira a governo federal dará entrada na Justiça Federal de
Brasília com uma Ação Civil Pública contra a Samarco, para conseguir, daqui a
10 anos, constituir um fundo de R$ 20 bilhões a fim de “suavizar a bacia do Rio
Doce” é de uma pusilanimidade que não tem mais tamanho. Merece a repulsa de
todo o povo. Estão fazendo encenação amarga e de péssima qualidade. Tripudiam
da tragédia e do sofrimento alheio. Estão enganando as vítimas. É tapeação para
mostrar que estão agindo. E a mando de Dilma, é claro. Quando a ação é do
governo federal, é sempre o presidente da República quem está à frente. Dele é
de quem partem as ordens.
Ação Civil Pública não tem prazo para acabar. Criada em 1985
(Lei nº 7.347) qualquer Ação Civil Pública, mormente tendo como causa uma
tragédia do tamanho da de Mariana, atravessa gerações e mais gerações, até que
seja concluída. E quando a ação terminar, e se dinheiro conseguir mesmo
arrecadar, a quantia reverterá para um fundo gerido por um conselho com a
participação do Ministério Público e da comunidade, “sendo seus recursos
destinados à reconstituição dos bens lesados” (Artigo 13 da referida lei).
Para o leitor entender: lá pelos anos 2070/2080, o dinheiro
arrecadado por essa desavergonhada Ação Civil Pública que Dilma determinou
fosse feita servirá para reparar os danos que a tragédia causou. Todos os
danos. Mas aí começarão outras demandas. Cada sobrevivente, ou seus herdeiros e
sucessores, vai precisar submeter à apreciação judicial a relação e estimativa
dos prejuízos que seus antepassados suportaram. Serão outros processos,
chamados de Liquidação de Sentença por Artigos, com contraditório, sentenças e
muitos recursos. Serão mais 10 a 20 anos de demora. Aí estaremos no Século
XXII.
Leio no O Globo de hoje, sábado (página 14): “Segundo o
advogado-geral da União, Luis Inácio Admas, a proposta é que o fundo seja
controlado pelas próprias empresas (no caso, Samarco, Vale e BHP), que
repassariam os valores conforme seus faturamentos”. Se entendi, gestores do tal
fundo serão os próprios réus da ação, os réus condenados, e o dinheiro das
indenizações seriam por eles entregue às vítimas na medida do faturamento das
empresas. Se for isso mesmo, deixo de fazer qualquer consideração, uma vez que
a proposta é indecente, desonrada e fraudatória. Se não compactuo com
malandragem, menos ainda com propostas escroques e escrotas.
FALTOU CASSAR A CONCESSÃO
Sim, desavergonhada. Não que a Ação Civil Pública mereça tal
adjetivação. A falta de vergonha e de pudor está no fato de o governo federal
optar apenas pela propositura da ação, sem, paralela e concomitantemente,
cassar a concessão que a própria União concedeu à Samarco e, no mesmo ato
(decreto ou Medida Provisória), abrir nova licitação para que o serviço de
exploração de minério não sofra solução de continuidade e os trabalhadores não
fiquem desempregados. E nem o município de Mariana perca os quase 90% de sua
receita, que procede dos impostos pagos pela mineradora.
A encampação ou reversão da Samarco (concessionária) pelo
governo federal (concedente) foi exigida e reclamada aqui na Tribuna da
Internet no artigo “O que Dilma espera para cassar a concessão da
Samarco e abrir nova licitação?”, publicado dia 22 passado e que pode ser
relido no “link”. No artigo estão as justificativas de fato e de direito para a
imediata cassação da concessão. Muitos outros blogs republicaram o artigo. Para
citar apenas dois: pensandovocê.blogspot de José Carlos Cataldi e
debatesculturais, de Alessandro Lyra Braga.
Mas que a verdade seja dita: tudo acontece e caminha na mais
absoluta normalidade. Não se pode exigir ou esperar de um governo
desmoralizado, ridicularizado, sem credibilidade interna e externa, marcado
pela corrupção, sem gente de razoável saber e mínima compostura… Não se pode
exigir de um governo bundão atitudes, medidas e gestos de energia, sobriedade e
altivez que o governo desconhece e não tem independência e força para tomar. (“Bundão
– sm 1. Bunda Grande. 2. Fig. Pessoa covarde, ou desanimada”).
Aurélio, Dicionário.