Segunda,
30 de novembro de 2015
Texto
reproduzido da Auditoria Cidadã da Dívida
Tradução Livre.
Um professor paranaense foi atingido no olho pela PM no dia
29 de abril enquanto participava de um protesto. “De repente, eu senti a
pancada”, disse ele posteriormente. “Eu me agachei, coloquei a mão sobre meu
olho e o sangue escorreu”.
Márcio Henrique – o professor ferido pelos PMs – e seus
colegas protestavam contra um Projeto de Lei que feria os direitos de
aposentadoria dos servidores paranaenses. Eles entraram em greve pela segunda
vez nesse ano porque o Governador do Paraná, Beto Richa, não havia cumprido o
acordo feito após o fim da primeira greve.
Em resposta a reivindicação dos professores, o governador
colocou a PM para reprimir os manifestantes grevistas, lançando mão do uso de
balas de borracha, gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral, spray de pimenta,
cassetetes e cães.
Mais de 200 professores ficaram feridos naquele dia, sendo
oito em estado grave. De acordo com o Governador, a mudança nos direitos de
aposentadoria dos professores foi uma tentativa de reduzir os gastos públicos.
Curiosamente, nesse mesmo ano, os deputados estaduais do
Paraná aprovaram um aumento de 26% em seus próprios salários, que agora atingem
R$ 25.322,25 mensais (cerca de U$ 6.450,00), sem contar os benefícios
adicionais, enquanto os professores recebem, em média R$ 2.473,22 ao mês (cerca
de U$ 630).
Em 18 de setembro de 2012, Isadora Faber, 13 anos, uma
estudante do ensino público da cidade de Florianópolis, foi acusada de calúnia
e difamação. Ela criou uma fanpage no facebook chamada “Diário de Classe”, onde
postava uma série de fotografias revelando a falta de manutenção em sua escola:
vidros quebrados, portas quebradas nas salas de aula e nos banheiros, fiações
elétricas expostas, quadras em máscondições, ventiladores e bebedouros
quebrados, e muito mais.
Com estas fotos, Isadora levou a administração da escola a
implementar melhorias no colégio, ao mesmo tempo em que fora criticada pela sua
atitude. O Sistema de ensino público brasileiro é conhecido por ter um enorme
déficit de infraestrutura, com professores mal remunerados e sem incentivo para
progredir na carreira, e estudantes desmotivados. Em um dos vídeos da página
“Diário de Classe”, Isadora disse: “Eu não faço isso para ter vantagens, eu
faço pelo bem de todos, então eu não entendo por que as pessoas se incomodam”.
As experiências de Márcio e Isadora são exemplos dos efeitos
dos enormes gastos do governo brasileiro com a dívida pública. Um total de R$
977,897 bilhões (cerca de U$ 250 bilhões) no quinto maior país do mundo em
termos territoriais e população, não é apenas um grande número; representa um
enorme impacto negativo ao Estado e ao povo brasileiro.
A figura a seguir indica o gasto com o serviço da dívida do
governo federal em 2014, que tem crescido exponencialmente nas últimas décadas.
[dê um clique na imagem acima para ampliá-la]
Fonte:
http://www8d.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=92718
Mesmo com o pagamento de aproximadamente R$ 1 trilhão, a
dívida pública cresceu 8,15% em 2014, indo de R$ 2,12 trilhões para R$ 2,29
trilhões*. Este gasto foi doze vezes maior que os investimentos em educação, o
que explica parcialmente porque não há dinheiro para educação. Em agosto, a
dívida pública chegou a R$ 3,7 trilhões, representando cerca de 65% do PIB,
atingindo a maior razão Dívida Pública/PIB da história brasileira.
Em 2000, instituições civis criaram o movimento social
“Auditoria Cidadã da Dívida” (ACD), e desde então eles tem exigido a realização
da Auditoria da Dívida Publica. A Auditoria está prevista na Constituição
Federal de 1988, mas o governo não demonstra interesse em realizar a auditoria,
mesmo ciente de que a ACD tem denunciado diversas irregularidades nessa dívida.
O Governo Federal tem forçado os governos estaduais a elevar tributos e cortar
gastos para pagar dívidas enormes e repletas de irregularidades.
Nos últimos anos, o Brasil tem sido uma das economias que
mais cresceram no mundo, devido ao seu grande potencial exportador. Entretanto,
com a enorme dívida pública que não para de crescer, os governos estaduais
estão ficando sem recursos, então não há dinheiro suficiente para investimento
em saúde, educação e segurança pública. Além disso, o brasil está em recessão
nesse ano, com crescimento da taxa de desemprego e aumento da inflação (acima
de 9%).
A dívida pública está criando um caos no Brasil, e os
grandes meios de comunicação não dão a devida importância para o assunto. Os
noticiários brasileiros discutem os efeitos da crise (recessão, inflação
desemprego e violência), no entanto nunca mencionam a causa principal.
Espero que algum dia eu seja capaz de mudar a frase “O
Brasil é o país do futuro – e sempre será” para “O Brasil é o país do futuro –
e é onde eu quero estar”.
* O
autor do texto comete um equívoco ao comparar quantias desiguais. O valor da
dívida interna líquida de R$ 2,12 trilhões, que se elevou para R$ 2,29
trilhões, não pode ser comparado com o valor da dívida interna bruta
apresentado posteriormente (R$ 3,7 trilhões), posto que estes totais foram
calculados com base em metodologias diferentes. A metodologia do útlimo valor,
adotado pela Auditoria Cidadã da Dívida e que consta em nosso dividômetro, pode
ser consultada no link a seguir:
http://www.auditoriacidada.org.br/entenda-os-numeros-do-dividometro-e-do-estoque-da-divida/
Fonte:
http://www.globalyoungvoices.com/article/2015/10/13/how-brazil-got-off-list-of-worlds-fastest-growing-economies